quarta-feira, 7 de abril de 2010

segunda-feira, 3 de novembro de 2008


Agradecimentos






Dedico este romance, baseado em experiências de “vidas”, às mulheres. Mas não me refiro as que simplesmente passaram por minha vida, e sim as que estiveram,estão e sempre estarão presentes , física ou espiritualmente, ao meu lado, por todos os caminhos que ainda terei que percorrer ,dividindo e somando forças,amizade,companheirismo,carinho e amor,qualidades próprias do ser humano mas que poucos tem a sabedoria para aprender,sentir,viver e principalmente dividir.




Agradeço a todas vocês fazendo um pedido: Nunca percam as qualidades e personalidade que fazem de vocês únicas e insubstituíveis, não apenas para mim, mas para todos aqueles que tiveram o privilégio de cruzar e participar de seus caminhos.




























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Nota do Autor



A muito, dizem que um homem deve alcançar três objetivos em sua vida: Ter, ao menos, um filho, para perpetuar-se; Plantar uma árvore, provavelmente um simbolismo quanto a criar raízes, firmar-se e progredir nesta vida, e escrever um livro, deixando seus conhecimentos, experiências e sentimentos, vivos para os seus e para humanidade.
Se realmente, estes atos, nos tornassem completos e dignos, creio que não existiria, neste mundo, uma só alma que não merecesse estar no paraíso após completar sua jornada neste plano. Não creio que seja tão simples ou fácil assim, pois o que realmente faz a diferença é o conteúdo implícito nesses atos.
Não tenho a pretensão e nem o desejo de, com este livro, completar esta trindade da existência, pois tenho a consciência de que, dentre estes atos, por mim executados, falta acrescerem conteúdo em cada um deles, ou até mesmo refaze-los.
Tenho um filho maravilhoso, feliz e que ama a vida e aos seus pais, esta benção eu e sua mãe conquistamos e estaremos eternamente ligados através e para ele. Espero vê-lo crescer, traçar e trilhar seus caminhos e conquistar tudo que lhe for importante, desejado e permitido nesta vida.

Quanto ao livro, leiam-no e tirem suas próprias conclusões. Espero que apreciem ,entendam e retirem desta estória ,algo de positivo, mesmo que seja apenas o prazer de lê-la e nesse tempo ,vive-la como à vivi em minhas fantasias e sentimentos verdadeiros.
























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Sumário


Capitulo 1 – Paixão.......................................................................................... 5

Capitulo 2 – Ansiedade.................................................................................. 10

Capitulo 3 – Ciúme........................................................................................ 14

Capitulo 4 – Insegurança............................................................................... 18

Capitulo 5 – Distância.................................................................................... 22

Capitulo 6 – Inspiração.................................................................................. 26

Capitulo 7 – Realizações............................................................................... 30

Capitulo 8 – Descobertas............................................................................... 34

Capitulo 9 - Renovações................................................................................ 38

Capitulo 10 - Objetividade............................................................................. 42

Capitulo 11 – Decisões.................................................................................. 46

Capitulo 12 – Conquistas............................................................................... 53

Capitulo 13 – Estabilidade............................................................................. 57

Capitulo 14 - Consciência.............................................................................. 62

Capitulo 15 – Separação................................................................................ 66

Capitulo 16 – Busca....................................................................................... 70

Capitulo 17 - Felicidade................................................................................. 74

Capitulo 18 – Amor....................................................................................... 78















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Capitulo. 1


Paixão



Prazer no sofrer
Alimento da alma
Aprendendo a viver

Convivendo com a dor
Tempestade serena
Em busca do amor

Esquecer de si mesmo
Neste mundo terreno
Elevando-se, pleno.

Bem estar repentino
O aperto divino
No espinho da flor














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Publicitário formado pela Escola Superior de Propaganda e Marketing e artista plástico, Paulo Correia passava por momentos difíceis, como free lance, mesmo tendo feito parte de equipes de criação de agências de expressão nacional, em passado recente, e considerando-se capaz e com talento. Mantinha seu escritório e atelier com certa dificuldade,mesmo dividindo as despesas deste com seu amigo e arquiteto André Torres ,que obtinha reconhecimento no mercado . Porem, Paulo não se sentia realizado e ficava pouco a vontade com a falta de privacidade que o ambiente o impunha. Via sua vida passar, mantinha imensa ansiedade o que, em muitos momentos, deprimia-o, pois, suas expectativas e anseios, por vezes, pareciam-lhe inalcançáveis.
Já tendo tido o privilégio de gozar boa posição profissional, junto ao mercado publicitário, no passado, sentia-se frustrado por não estar tendo o apoio e reconhecimento, que acreditava merecer, em época tão conturbada como a atual.
Pessoa extremamente sensível, com sentidos aguçados no que tange às nuanças e aflições alheias, pois, isto se revertia em material de inspiração e sucesso em seus trabalhos, tanto profissionais, em campanhas e criações, como em seu hobby, que o acompanhava desde a infância ,quando despertou sua paixão pelas artes, e deu início ao seu aprendizado, freqüentando atelier de artistas que o ajudaram a descobrir e aprimorar sua própria técnica e estilo nas artes plásticas, o qual Paulo se entregava com profunda dedicação e paixão, até por não ter, nesta atividade, o compromisso de agradar a quem quer que seja, apenas a si mesmo.
Um recente contato, de uma grande empresa localizada no Estado da Bahia, o havia empolgado e alimentado suas esperanças em poder regularizar suas despesas que, há algum tempo, estavam sendo cobertas por seu companheiro de atelier, o que contribuía para o desanimo e descrédito em seu futuro, naquela área.
Aos trinta e oito anos de idade, já tendo vivido em boa situação financeira, no passado, Paulo, atualmente, morava em um pequeno apartamento no bairro do Ipiranga, em São Paulo, e mantinha, com dificuldade, as despesas pessoais como aluguel e demais contas inerentes a casa. Pouca mobília, a maior parte delas,bem como eletrodomésticos,remanescentes de seu divórcio, ocorrido a cerca de cinco anos, traziam-lhe um certo conforto e comodidade ,mesmo que, sem proporcionar charme algum ao ambiente.
Tendo sido casado por alguns anos com Carla Dourado e, deste relacionamento, nasceu Felipe, seu único filho, que atualmente estava com seus nove anos de idade e morava com a mãe, costumava ficar com Paulo aos sábados ou domingos ,quando possível, pois, Carla mantinha Lipe em diversas atividades, aproveitavam, os finais de semana, para se divertir no clube, em que se tornara sócio, para que Felipe tivesse oportunidade de praticar esportes e conviver com garotos e garotas de sua idade ,que não somente aqueles de seu colégio.
Garoto inteligente, amoroso e tranqüilo, Felipe, ou Lipe, como era tratado pelos pais, herdara dele o gosto pela pintura e desenho, e passavam parte do tempo, em que estavam juntos, absortos nessa atividade que, era para ambos, uma terapia prazerosa e fazia com que, através de seus trabalhos e conversas, durante a atividade, conhecem melhor um ao outro e fortalecessem seus vínculos de amizade, e como pai e filho.
Não sendo de personalidade solitária, Paulo, após sua separação, manteve alguns relacionamentos, porem, nenhum que lhe inspirasse, realmente, a viver uma vida de casado, até que, há alguns meses, conheceu por intermédio de uma grande amiga, Andréa Moraes, que Paulo considerava intima e confidente dividindo alegrias e dissabores e sentia a reciprocidade destes
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sentimentos e confiança, a mulher que o despertou para uma nova fase em seus anseios mais íntimos,dada sua beleza e espontaneidade,que atingiram Paulo com uma avalanche de sentimentos .
Chamava-se Laura Mello, no auge de seus trinta anos, de família de classe média, como ele, altura mediana, de pele clara, cabelos negros como carvão, sorriso largo, quase que constante, e um insustentável brilho no olhar que o contaminava de desejos e calor. Sua presença,com seu corpo desenhado por curvas longas e perfeitas,o prendia em sentimentos de desejo, fazendo-o esquecer do mundo ao seu redor, deliciando-se com aquela que ,já a primeira vista,vislumbrava como sua.
Semanas após serem apresentados, Paulo e Laura já se viam compartilhando o pequeno apartamento dele, ambos felizes, pois, até aquele momento, sentiam-se completos e unidos pela força maior da paixão.
Mesmo ciente de sua débil situação financeira, Paulo concedeu plena liberdade para que Laura interferisse na decoração, dos poucos ambientes, daquele que, dali em diante, seria o lar para ambos, fazendo de tudo para que ela se sentisse plena e confortável, sentimentos estes que, para ele, somente a presença dela bastava. Fez apenas o pedido de que não removesse de seu lugar, uma antiga cômoda que lhe foi presenteada por sua mãe e que o acompanhara desde então.Colocada no único quarto ,do apartamento,encostada na parede ao pé da cama,sob um pequeno espelho ,provavelmente esquecido ali por algum antigo morador ,e que não havia sido removido por Paulo ,pois lhe era útil e o agradava, e o mesmo,emoldurado,parecia-lhe completar, em estilo e época ,o mobiliário.
Por ter, em seu trabalho, a liberdade e necessidade de manter-se constantemente sintonizado com os objetivos e desenvolvimento de campanhas, Paulo via naquela peça de mobiliário, uma companheira desde os tempos de estudante e mantinha, em seus gavetões, não só idéias e desenvolvimentos de projetos para seus clientes, como fazia da mesma uma espécie de arquivo pessoal, encontrando sempre, em algum de seus compartimentos, lembranças e sentimentos vividos, os quais, por vezes, buscavam resgatar, reviver e explorar. Fazia daquela cômoda seu elo com a vida e consigo mesmo,nada havia sobre a mesma a não ser uma caixa em madeira,externamente decorada com um mosaico de cacos ,que lhe foi presenteada por Laura, dias após se conhecerem ,e que a mantinha sobre a cômoda como parte integrante e perfeita de seu conjunto de vida.Não obstante mantivesse seus pertences ,de inestimável valor sentimental, naquele móvel,Paulo não via motivos de deixa-los,de alguma forma,trancados ou protegidos, pois não via que valor teriam seus pertences ,ali deixados, para qualquer outro,pois se tratava de seus sentimentos e recordações, nada de real valor financeiro que pudesse aguçar a cobiça alheia.
Laura, com a jovialidade e criatividade que lhe era característica, aos poucos, com pequenos toques, conseguiu dar, aos ambientes de seu novo lar, um ar claro, alegre, sem que para isso onerasse as despesas, ainda difíceis de se manter. Contribuía, com sua vinda para o apartamento ,com seus ganhos com professora de artes em uma escola particular, onde lecionava ,e que lhe rendia boa e certa quantia mensal. Não interferindo no único e simples pedido de seu companheiro e amante, quanto à posição e manutenção da peça de mobiliário, colocada como que em repouso aos pés do leito de ambos, mantendo sua superfície limpa e livre de quaisquer outros pertences, que não o ali colocado por Paulo, mesmo certa de que ele não questionaria, caso ela usufruir-se daquele espaço pois, sendo o apartamento pequeno e com poucos móveis, todo espaço era pouco quando se tratava de acomodar os pertences do casal ,colocando seus
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badulaques que, como mulher ,possuía muitos,dentre perfumes,cremes,maquiagens,lenços descartáveis,em um criado mudo colocado ao lado da cabeceira da cama ,dividindo espaço com
sua luminária pois, Laura tinha o hábito de sempre ler,nem que poucas páginas,até que pegasse no sono.
Por Laura ter crescido na convivência de dois irmãos, em casa de sua mãe, onde estivera desde sua adolescência, pois seus pais separaram-se quando seu irmão caçula, quatorze anos mais jovem que ela, ainda alimentava-se por mamadeira, e o primogênito um pouco mais velho que ela, Paulo acreditava vir daí sua insegurança quanto a relacionamentos, que ela manifestava por vezes, e que Paulo procurava não questionar ou se aprofundar no assunto, temendo agravar a situação, colocando a relação entre eles em risco, porem, Laura havia aprendido a respeitar o espaço e modos dos outros, mantendo assim a harmonia e convívio num ambiente em comum.
De gênio forte porem sempre disposta, Laura iniciava seu dia com uma energia que, por vezes, deixava-o pasmo e fora de sintonia com toda aquela agitação e planejamento, pois, tendo seus afazeres domésticos, nos quais Paulo procurava colaborar ao máximo mesmo que contra a vontade de Laura que gostava das coisas feitas a seu modo e por ela, não se dava ao direito de atrasos em seu compromisso com o colégio e seus alunos, mantendo uma postura profissional exemplar e exigente consigo mesma. Já Paulo,tinha seus horários flexíveis pois sua produtividade e conquistas não estavam diretamente ligados a rotinas, e sim ao seu entusiasmo e criatividade, não havendo assim a necessidade de sua presença em seu atelier ,até porque,suas melhores e mais produtivas idéias quase nunca nasciam naquele ambiente,utilizando-o apenas para o aprimoramento,desenvolvimento e preparação de material para as apresentações que seguiriam aos clientes.
Paulo sempre despertava com sossego, levantando-se por volta do meio da manhã, iniciando seu dia com menos agitação, porem, sempre ligado em tudo que ocorria a seu redor e principalmente observando as particularidades de todos, fosse à padaria, onde freqüentemente passava para tomar seu café da manhã ou, o que era mais corriqueiro, um copo de suco natural, antes de dar início ao seu dia, pois, em sua área de trabalhos, todos eram, potencialmente, público alvo.
De personalidades ambíguas, mas com o fogo da paixão presente sempre que se viam juntos, ao anoitecer, após um dia de trabalho e compromissos, ou quando passavam períodos longos dos dias disponíveis a ambos, o que ocorria uma ou duas vezes por semana, pois Laura mantinha livre parte de seus dias para descanso ou atividades pessoais como passeios, e Paulo sempre encontrava uma forma de estar compartilhando, com ela, estes espaços de tempo e finais de semana quando eles procuravam se divertir e se relacionar com amigos que, em sua maior parte formados por Paulo e que, agora, estendiam a amizade ao casal.
Por vezes, Paulo sentia certa distância, um desagrado ou desconforto de Laura quanto a sua constante presença, porem, acreditava que esta era a maneira e o objetivo real que um casal buscava quando se propunham a viverem juntos,estarem um ao lado do outro,mas ela sentia-se sufocada e por mais aflição e insegurança que estas atitudes causavam nele , Paulo procurava conter-se e buscava proporcionar a ela mais espaço,mesmo que sem muito êxito, na forma de agir, artificial, que empreendia.
Estavam se descobrindo como pessoas e como casal, ele mais paciente e submisso, visto que Laura, cada vez mais, aguçava seu gênio forte, ativo e controlador apesar de buscar, dentro de si, maior paciência e aceitação quanto ao ritmo e prioridades dele, que se mostravam opostas às dela e, por conseqüência, Paulo buscava controlar e ocultar tais características de sua

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personalidade trilhando ,inconscientemente ,um caminho que o levava a agir artificialmente, por receio de chocar-se com os desejos e anseios de Laura.
Meses se passaram e ambos mantinham o relacionamento vivo e aberto, mesmo com as dificuldades inerentes a cada um deles, porem, Paulo sentia que algo não caminhava com a desenvoltura esperada, e foi quando surgiu a primeira crise do casal, mas uma vez superada pela condescendência e submissão que Paulo se impunha e que, momentaneamente, trazia resultados, mas não afastava dele aquele sentimento de perda, de fuga de algo maior em seu intimo.










































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Capitulo. 2


Ansiedade


Ânsia de busca
Busca com pressa
Pressa confusa
Se perdendo, o que resta

Impaciência da alma
Isenta de calma
Sem controle, inseguro
Obscurece o futuro













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Fim de tarde, em seu atelier, disposto a encerrar o dia de trabalho, Paulo recebe uma ligação solicitando que fosse marcada uma reunião, referente ao trabalho junto à empresa localizada na Bahia, fato que o fez, novamente, respirar um ar de segurança e reconhecimento, mesmo ciente de que nada seria realmente decidido, e tal reunião era apenas o primeiro passo de um árduo caminho a ser trilhado até que fosse definido e formalizado um contrato firmando a administração da conta de investimento do cliente.
Ao chegar a casa, mais cedo que o corriqueiro, pois sua euforia para participar à Laura do ocorrido, e ansioso por ter novamente a possibilidade de proporcionar a ela uma condição melhor de vida, acreditando que isto colaboraria para que ela se sentisse mais segura, quanto ao relacionamento deles, e aliviasse a tensão que foi se formando entre eles ao longo dos últimos tempos, Paulo retirou da geladeira uma garrafa de vinho frisante, que lá estava, separando duas taças e esperando que Laura chegasse para comemorarem juntos a boa nova,mesmo sabendo que ela não aprovava sequer a insinuação dele em beber qualquer tipo de bebida alcoólica pois apesar dele reagir, a elas, com alegria e espontaneidade .
Havia prometido a Laura, quando do desentendimento que haviam tido no passado, não mais beberia, pois, em uma ocasião em que se sentia sob pressão e muito angustiado, Paulo descontrolou-se, o que a desagradou e quase pôs fim à relação entre eles, porem, não se considerava um assíduo bebedor, pois, só lhe trazia prazer beber em companhia de amigos e em ocasiões festivas, o que não era uma constante em sua vida, atualmente.
Experiências vividas por ele em sua juventude, com bebidas e mesmo drogas, o fizeram refletir sobre os prós e contras destes artifícios e a tomar a sábia decisão de não mais abusar delas, e de sua saúde. Seguro de estar honrando sua palavra junto a Laura, sem que isto fosse para ele um grande esforço,abriu o vinho,afinal de contas aquela era uma ocasião especial e apropriada para um cálice com a mulher que amava pois havia dado o primeiro passo em direção ao resgate de sua auto confiança e animara-se com a possibilidade de voltar a progredir e pensar na possibilidade de planejar a vinda de uma filha,sonho de ambos.
Achava prematuro tocar no assunto com muita ênfase, pois nada havia de concreto ainda, mas nada o impedia de cultivar o sonho e a esperança de buscar uma nova vida ao lado de Laura, mulher que, para ele, tinha todas as qualidades para se tornar mãe e esposa ideais.
Tudo estava acontecendo muito rápido entre eles, planos, sonhos, ambições, e por muitas vezes Paulo sentia que todo este mundo irreal, que construíam em torno e para eles, soava-lhe como uma fuga daquelas que, por mais que em seu intimo não aceitava enxergar , mais se fazia presente: as diferenças ,radicalismos e excessivas exigências que se impunham ,e o sentimento de distância que, mesmo sem haver comentários entre eles, crescia a cada dia.
Laura prosseguia com suas rotinas e compromissos, mantendo seu ritmo como quando se conheceram, já Paulo adaptava e alterava seu ritmo procurando satisfazer os desejos de Laura e os dele ,estando sempre próximo e auxiliando-a quando solicitado,não que isto o incomodasse mas, mesmo desmembrando-se para atende-la como podia, persistia aquela sensação de distanciamento e angustia em seu coração ,e era quando buscava fazer com que ela o compreendesse melhor procurando expor seus sentimentos, por mais difícil que fosse pois, não se deve atropelar o tempo quando se trata de convivência, os efeitos podem ser inversos e as palavras se perdem ou não são compreendidas.
Paulo, determinado a não permitir que o relacionamento se esvaziasse, a cada dia revia seus conceitos, suas prioridades e buscava aprimorar e adaptar seus gostos e prazeres aos dela mantendo assim maior proximidade e participando mais ativamente de sua vida, tentando fazer-se mostrar e reavivar a chama da paixão que parecia perder a intensidade.
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Laura mal chegou a casa e Paulo, ansioso para dividir seu entusiasmo, pôs-se a relatar o ocorrido sem nem, ao menos, deixa-la acomodar-se após um dia cheio de trabalho. Participando-a,em detalhes,do ocorrido e,eufórico por vê-la interessada e solidária quanto às expectativas que ele traçara,brindou com ela que ,expondo seu desejo e esperanças de que tudo corresse conforme esperado,relaxou e se retirou para tomar seu banho e recuperar as energias após um dia cheio.
Paulo, um pouco frustrado com a atitude de Laura, procurou não retomar o assunto, entendendo que talvez sua reação fosse a mais prudente, visto que toda sua euforia baseava-se em uma possibilidade e não em fatos concretos, porem, não se deixou abater, deitando ao lado de Laura e buscando descansar, pois, no dia seguinte, daria início à sua preparação para tal reunião e planejamento de sua viagem que deveria ocorrer em breve.
Ao amanhecer do dia, Paulo, vendo Laura se preparar para sair, levantou para despedir-se dela, o que a deixou surpresa, arrumou-se e desceram juntos para seus afazeres.
Chegando a seu escritório, André pôs-se a questioná-lo quanto ao que teria ocorrido, pois, não era comum vê-lo, no escritório, naquele horário. Colocado a par dos acontecimentos ,André felicitou-o,contente com a revitalização da auto estima do amigo e pôs-se a disposição de Paulo ,para ajuda-lo, no que fosse necessário.Paulo,por sua vez,feliz com a manifestação do amigo e consciente de que o mesmo o estava apoiando e mantendo ,a algum tempo,em sua parte das despesas do atelier ,sentiu-se confortável e grato pelo reconhecimento e confiança que André depositara nele e manifestou a intenção de colocar suas pendências em dia assim que os resultados concretos aparecessem .
Pela primeira vez, em muito tempo, Paulo sentia-se a vontade naquele ambiente e feliz com a positividade e apoio espontâneo de André que, por terem seus horários de trabalho tão adversos, pouco se encontravam e com isto a troca de idéias e convivência foi rareando sem que ele se desse conta ,e mesmo assim via que seus valores e confiabilidade continuavam a nortear a estima e conceito que o amigo cultivava por ele.
O dia correu com intensa atividade, como a muito não acontecia, Paulo utilizava todo seu tempo livre, entre seus demais afazeres e clientes, preparando-se para reunião que, mesmo não tendo sido agendada, era certo que aconteceria em breve.
Vibrações a parte, a dificuldade financeira de Paulo não havia mudado, o que lhe forçou a planejar com antecedência seu roteiro de viagem e consultar agências no intuito de faturar suas despesas esperando o melhor quanto aos resultados desta empreitada.
Por se tratar de uma empresa de grande porte, que se instalou em um pequeno vilarejo no estremo sul do Estado da Bahia, vilarejo este que, em pouco tempo, transformou-se numa cidade sustentada pela monstruosa indústria que lá implantaram, o acesso ao lugar era dificultado pela ausência de aeroportos nas localidades, forçando-o a seguir até Vitória, no Espírito Santo, e só daí partir, de automóvel por, aproximadamente, quatro horas de viagem, até seu destino final, a cidade de Mucuri.
Planejava estar fora por cerca de quatro a cinco dias, selecionou trabalhos executados para alguns de seus clientes no intuito de apresentar sua linha de conduta, criatividade e personalidade, procurando, com isto, ilustrar ao máximo seu valor profissional e capacidade de adaptação e alcance dos objetivos para aqueles que o contratavam, mesmo ciente de que ,pelo porte da empresa que o contatara,sua apresentação deveria ser muito mais abrangente e sedutora pois ,seus atuais contratos,mesmo que fiéis, tinham verbas limitadas o que não possibilitava que


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Paulo utilizasse de todos os recursos disponíveis em sua área, empobrecendo, de certa forma, o valor, a abrangência e o impacto de suas campanhas no mercado.
Dias se passaram, a apresentação estava tomando corpo, os pormenores, referentes à viagem propriamente dita, estavam resolvidos, quando a tão esperada reunião foi finalmente agendada para dali a duas semanas.
Laura, tendo acompanhado o empenho de Paulo em sua preparação para o encontro, se mostrava mais animada e confiante ante a possibilidade real de sucesso e conseqüente melhora da condição financeira, aliviando assim parte da tensão que afligia a ambos e esperando, com isto, o casal voltasse a se relacionar com maior leveza e naturalidade, o que seria quase que como umas férias do fardo e tensão que carregavam a muito.
Paulo, consciente de ter empregado o seu melhor naquele trabalho, via-se tomado por um sentimento de insegurança, o que era comum ocorrer com ele assim que terminava uma tarefa desgastante, batendo dentro dele uma sensação de que algo estava por fazer, sentimento este que Paulo tinha consciência que passaria em pouco tempo, o que realmente aconteceu.
Afastando de seu pensamento, a tal apresentação que,em seu devido tempo ocorreria, procurou dedicar-se, com mais ênfase, aos seus outros clientes que, alem de fiéis, lhe rendiam ganhos certos e seguros, mesmo que ainda insuficientes perante suas despesas, situação esta que, aos poucos e sem que Paulo se desse conta, estava mudando,seja pela empolgação dele, que proporcionou maior confiança e ,por conseqüência, investimentos ,por parte de seus clientes ou porque ,sem muitos estímulos,até então, não tinha olhos para enxergar seu próprio progresso dentro de sua carteira e contas de clientes.
Tendo se dedicado intensamente aos projetos e trabalhos, nos últimos dias, num momento de reflexão, Paulo sentiu que não havia dado a corriqueira atenção à sua mulher que, por sua vez, não esboçara nenhuma manifestação de desagrado ou falta dos cuidados que ele, por puro gosto e prazer, tinha como sua principal prioridade e satisfação, fazendo-o refletir, quando um sentimento de remorso e pânico o acometeu. Estaria ele perdendo Laura por sua própria negligência?
Vendo sua súbita e consciente insegurança e, admirado com suas próprias limitações, tratou de tirar este pensamento da cabeça, o que de imediato o aliviou da forte pressão no peito que o acometia sempre que considerava, mesmo que fantasiosa, a possibilidade de perdê-la.
Passando a avaliar seu comportamento e atitudes perante Laura, viu-se confuso, pois talvez estivesse sufocando-a com tantos cuidados e agrados que empreendia, sem enxergar que tais atenções, realmente, a estivesse fazendo reagir, instintivamente, com repudio por se sentir acuada e privada de sua liberdade, mesmo sem ser esta sua intenção ou objetivo, era um fato a ser considerado por ele.










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Capitulo. 3


Ciúme



Cume da dor
De quem vê o amor
Adoentado, carente
Elementos presentes
De um paladar sem sabor

Confundindo o confuso
Que se arrasta no escuro
Sedento por posse
Cada vez mais fundo... no poço







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Laura ultimamente se tornara um pouco mais acessível e amável, parecia estar mais segura em relação a seus sentimentos e objetivos, o que não queria dizer que estes sentimentos correspondiam diretamente ao seu relacionamento, mas, mesmo assim, não estava disposta a questionamentos e avaliações e sim de inspirar-se e viver, o mais intensamente possível ,aquele estado de espírito que a acometia. Mostrava-se carinhosa ,com disposição para sair,afastar-se,um pouco, da rotina que a envolvera por tempos,passando a freqüentar,juntamente com Paulo, a casa de amigos,saídas noturnas, a barzinhos, e passeios matinais , retomando o prazer de praticar suas corridas que sempre lhe fizeram tão bem,mantendo-a saudável e dispersa de tudo e de todos,fazendo daquela atividade verdadeira meditação, o que lhe proporcionava paz de espírito e a fazia sentir-se leve e luminosa .
Laura conquistara a simpatia de Andréa, amiga intima de Paulo desde a juventude, pois, mesmo tendo sido apresentada a ele, por Andréa, conheciam-se apenas superficial e socialmente, este sentimento mostrou-se recíproco e passaram a freqüentar sua casa com certa assiduidade, fazendo com que Paulo se sentisse relaxado, mostrando-se aberto nas opiniões que expunha, em meio aos diversos assuntos que surgiam nas longas e agradáveis conversas que invadiam o ambiente, pois, Andréa, alem de ser uma mulher culta, mostrava especial interesse em tudo que dizia respeito ao casal e em suas opiniões sobre o que quer que estejam discutindo, o mesmo ocorria com Paulo e Laura que admiravam a franqueza e segurança de Andréa, ao expor seus pensamentos e opiniões.
Laura, por vezes, direcionava a conversa para o lado comportamental de Paulo, quanto a suas atitudes e com respeito à maneira de se portar em seus relacionamentos, buscando a opinião de sua amiga que convivia com ele durante anos, mantendo uma amizade intima e confidente, na tentativa de entender e aceitar melhor determinados comportamentos e reações que ele demonstrava e que a desagradava ou não compreendia, mesmo sabendo que esta sua abordagem incomodava a ele e o deixava pouco a vontade e, por vezes, calado por ser ele o objeto do assunto.
Por sua vez Andréa, sempre perspicaz, tecia comentários com sutileza buscando equilibrar suas opiniões, visando compreender melhor a recém chegada amiga e evitando criar conflitos ou injustiças, pois, a persistência de Laura, muitas vezes, também a incomodava e ela não iria, em hipótese alguma, expor sua relação com o amigo sem que antes se sentisse segura quanto as reais intenções de Laura e a plena aprovação e compreensão de Paulo.
Pessoa de excelente índole, porem extremamente teimosa quanto a sua maneira de enxergar o mundo e as pessoas, Laura não aceitava mudar seu gênio, mesmo que para melhor.Convicta de que, se fizesse concessões a esse respeito , exporia sua fragilidade que a tornaria vulnerável e indefesa,condição que a apavorava, a ponto a ter se tornado,por conta disto, uma pessoa extremamente intransigente.
Andréa, a par das novidades relativas ao trabalho de Paulo, pois eles se falavam constantemente, por telefone ou em rápidos encontros matinais, procurava sempre enfatizar, diante de Laura, as qualidades técnicas e criativas do amigo, comentando sobre as campanhas publicitárias que ele havia desenvolvido durante sua carreira, que ela acompanhava com satisfação, e sua explicita admiração quanto às telas pintadas por ele, enfatizando, inclusive, os anos de insistência para que Paulo se dedicasse, exclusivamente, as artes plásticas, pois acreditava que seu amigo era abençoado com um dom que não deveria ser desperdiçado e sim desenvolvido e aprimorado para que fizesse deste, não apenas um hobby, mas sim sua atividade diária, constante e de ganho.

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Observando o respeito e admiração que a amiga tinha por Paulo, Laura começou a se questionar do porque não enxergava, com a mesma clareza e emoção, as virtudes e dom que ele transmitia, talvez por receio de, com isto, reconhecer que existisse dedicação e amor nele, pela arte, que superasse seus sentimentos por ela, trazendo a difícil tarefa de aceitar e assumir o quão poderia ser medíocre.
Andréa notou que Laura ficara pensativa e admirada com seus comentários e, aproveitando a oportunidade, perguntou a ela qual sua opinião e avaliação quanto aos quadros de Paulo, certa de que ela já havia tido oportunidade de admirar muitos deles, procurando com isto, dar oportunidade a Laura de expressar seus sentimentos em relação ao trabalho e conseqüentemente a pessoa de Paulo, o que traria grande satisfação ao amigo, ali presente. Como Laura, em ocasiões anteriores, havia expressado seu desagrado ao estilo de arte de Paulo, pois ela tinha forte tendência a só apreciar a arte abstrata,fato este que Andréa desconhecia, limitou-se apenas a expressar seu agrado e respeito aos esforços e conquistas que ele alcançara no universo plástico, sem estender-se nem aprofundar-se em seu gosto pessoal, o que foi, de certa forma, uma atitude de bom tom.
Andréa, sensível e amante de todas as formas de expressões artísticas, admirou-se com tão superficial avaliação de Laura, visto que, a mesma lecionava, mesmo que com crianças, no campo das artes e, diante da falta de sensibilidade e visão de Laura, tratou de desviar o assunto para outra direção, sentindo que assim não a exporia e evitaria comentários insensíveis e desagradáveis, dada a explicita falta de conhecimento e entendimento que Laura demonstrara.
Longe de estar pré-julgando a mulher que conquistou o coração de seu, incondicional, amigo, Andréa quis crer que apenas não era o assunto e momento certo para buscar em Laura palavras de incentivo e aprovação à pessoa de Paulo porem, a tentativa, não só tinha se mostrado valida com lhe rendeu um olhar sincero e reconfortante de Paulo, que compreendeu a boa intenção da amiga.
Sempre havendo muito a falar e a minuciar nos assuntos, por vezes, discutidos entre eles, a conversa prosseguiu sem maiores constrangimentos, e Andréa buscou saber, com maiores detalhes, a respeito da futura empreitada que o amigo travaria junto à empresa situada na Bahia e colocando-se, como sempre o fez, a disposição de Paulo para colaborar, no que estivesse ao seu alcance, na execução de afazeres diários profissionais em São Paulo, durante o período que ele estivesse em viagem, o que fez com que Laura, imediatamente, intervisse e ,agradecendo, dispensou educadamente a oferta de Andréa esclarecendo que tudo estava devidamente planejado e sob controle, pois, ela mesma já estava incumbida de manter a rotina dos negócios e clientes, de Paulo, durante o período que estivesse fora, o que deixou Paulo surpreso, pois, não só não era verdade, como nunca havia conversado ou pedido tais favores a ela, mas se conteve e acenou como que concordando e agradecendo a amiga a disponibilidade ofertada.
Sentindo que, naquele dia e pela primeira vez, Laura demonstrava certo ciúme de Paulo, Andréa tratou de manifestar seu apreço pela disposição de Laura em apoiar o amigo em seus afazeres, mesmo tendo observado a surpresa dele, quando da afirmação de Laura, e pôs-se a imaginar que motivo teria dado para que Laura agisse com tanta repreensão, porem, pratica como sempre foi, Andréa viu algo positivo em tais atitudes. Laura havia demonstrado, claramente, sua insegurança, e isto era, para Andréa, um ponto que Paulo não só saberia enxergar como o ajudaria a compreendê-la melhor, e também faria com que se sentisse desejado, o que de certa forma traria um algo a mais que, a muito, faltara naquela relação.

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Satisfeita, mesmo que surpresa, com as manifestações ocorridas naquela, diferenciada, visita, Andréa despediu-se do casal, que já manifestara a intenção de se retirar, visto que o dia
seguinte seria mais um dia de trabalho, e teve, no abraço grato do amigo ,a certeza do sentimento de satisfação ,com o desenrolar dos assuntos daquele encontro , o que a deixou ainda mais feliz e segura de ter proporcionado a ele,através de Laura, sentimentos como desejo e estima,o que a algum tempo Paulo não conseguia enxergar ou sentir,por parte de Laura.
No retorno para casa, Laura se mostrou carinhosa e amorosa e apesar de não demonstrar a intenção de esclarecer ou justificar sua atitude em casa de Andréa, ao dispensar a gentil e sincera oferta de apoio da amiga, para com ele, Paulo achou melhor não tocar no assunto e considerar, como certo, o compromisso de Laura em colaborar com ele quando estivesse fora.
Mesmo tendo André, seu amigo e parceiro no escritório que, sempre que necessário, cuidava de manter o dia a dia nas situações de viagens, Paulo, desta vez, dispensaria o amigo desses afazeres, delegando à Laura tais responsabilidades, acreditando que a faria feliz e mais próxima dele e de sua vida. Laura ,por sua vez, não se importava em colaborar já que ,por impulso,havia se proposto a isso ,mesmo que tais tarefas a fizessem sentir-se entediada.






























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Capitulo. 4


Insegurança



Algema dos que se mostram fortes
Agenda dos que se fazem cultos
Carências dos que se vêem seguros












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Os dias se passaram e, mesmo Paulo tendo recebido a ingrata notícia do adiamento de sua reunião, o que lhe obrigou a alterar todo seu planejamento e acertos junto à agência de viagens, não desanimou, pois, o adiamento não era por tempo indeterminado e sim um reajuste de datas, necessário para que todos os interessados, da parte da empresa, pudessem estar presentes, pois nem todos estavam lotados naquela unidade e deveriam se deslocar de suas cidades e estados para que o encontro se fizesse possível e produtivo já que, quando se tratava da promoção da imagem e produtos daquele grupo, a divulgação devia ser de âmbito nacional e, para tanto, todos os interessados e responsáveis deveriam se fazer presentes, deste modo, a empresa se viu obrigada a transferir o compromisso para o mês posterior.
Laura prosseguia com seus afazeres diários, tanto domésticos como profissionais, e tinha, por gosto, a cada quinze dias, providenciar uma faxina completa e detalhada no apartamento e, a cada vez que isto ocorria, ficava intrigada e curiosa quanto aos pertences guardados naquela cômoda, que ela se limitava a espanar superficialmente, sem intenção de invadir a privacidade de Paulo, mesmo já tendo olhado todas aquelas lembranças, dentre imagens, papéis e documentos, acreditava que, em momento oportuno, ele a convidaria a participar de suas recordações do passado, colocando-a a par, com maior riqueza e detalhes, de sua vida, quando ela ainda não fazia parte. Esperava que a fizesse enxergar Paulo com outros olhos e, talvez , compreender melhor a ele ,e procurar perder a insegurança que não conseguia deixar de sentir , reduzindo assim a distância, que aumentava a cada dia,entre eles.
O móvel, aquele objeto inanimado, parecia conter a chave de suas dúvidas e aflições, uma viagem ao passado e ao interior de Paulo, que ela desconhecia e que ansiava desvendar para, assim, melhor compreende-lo, e a seu relacionamento.
Laura passou a enxergar, aquela cômoda, como um ser completo, vivendo no presente todos os momentos de sua existência e refletindo o futuro naquele espelho, sobre seu suporte que continha vida e emoções, devidamente ordenadas, em seus compartimentos e que ,quando somados, expunham–no por inteiro, sem reservas ou pudores. Aquele era Paulo, que ela ansiava desvendar e conhecer,profundamente.
As férias escolares estavam se aproximando e Laura a esperava com ansiedade, pois havia tido um semestre exaustivo e não via à hora de poder descansar em seu apartamento, coisa que apreciava e, a muito, não fazia, e intensificar suas caminhadas, já que o início de suas férias coincidiria com a data programada para a viagem de Paulo e isto a deixaria, por alguns dias, sozinha em casa, o que faria-lhe bem, pois teria oportunidade de relaxar e refletir sobre si mesma e renovar sua energias.
Paulo trabalhava como nunca, os negócios o envolviam e o ocupavam de forma que seus dias pareciam-lhe curtos. Procurava deixar seus assuntos e compromissos o mais acertados possível para que não ouve-se surpresas nem transtornos ,para ele e Laura, durante sua ausência,visto que ela trataria de mantê-los ,como combinado.
Chegado o domingo, dia em que Paulo reservou para passar com Lipe e leva-lo ao cinema e em sua lanchonete favorita, programas que Laura não costumava partilhar com eles, pois, mesmo tendo afinidade com crianças, sentia-se pouco a vontade e sem paciência com Lipe e não fazia o menor esforço para mudar sua atitude ,o que deixava ambos chateados mas respeitavam a
posição dela pois ,de nada adiantaria insistir por sua presença que seria de mal grado, e só faria por apagar a magia e alegria que sentiam ,quando juntos.


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Paulo acreditava que, a falta de tato e paciência que Laura demonstrava por Lipe, relacionava-se ao fato dele ser fruto de seu relacionamento anterior e por ela desejar ter seu próprio filho com ele e, até o momento não tê-lo feito, seja por falta de condições financeiras, principal argumento que ela apresentava, ou por não estar segura quanto ao futuro, motivo que Paulo considerava o mais provável, porem, guardava esta impressão para si, temendo justificar suas atitudes infantis, por suas inseguranças, o que a deixaria ainda mais angustiada ou, pior que isso, a afastaria definitivamente de Lipe e conseqüentemente dele, pois, Paulo sabia que, o medo de perder os sonhos e a objetividade, nos atira num mundo vago e fraco.
Entre seus temores e apreensões, Paulo via-se frustrado e cansado de ter que, constantemente, policiar suas ações e sentimentos e começava a avaliar se aquela desenfreada paixão que sentia por Laura não estaria lhe custando à própria liberdade, porem, decidiu aguardar sua viagem, onde estaria, por dias, sozinho e poderia avaliar melhor seu sentimento, prioridades e criar forças para tomar uma posição, seja ela qual fosse, por mais que sofresse com as possibilidades que, tal ato, pode-se vir desencadear.
Consciente de seu papel de pai, Paulo não deixaria, de forma alguma, que nada nem ninguém interferissem ou prejudicasse sua relação com Lipe, até porque era uma criança educada e carinhosa, e não merecia o destrato de quem quer que seja, muito menos de alguém que se relacionava com seu pai.
Paulo carrega consigo, dentro de sua carteira, duas fotografias, a de Lipe, sempre recente, e uma foto de Laura, que havia sido dada por ela com uma linda dedicatória no verso, a qual ele costumava ler e reler sempre que estava afastado, seja por estar trabalhando ou envolvido em qualquer outra atividade, e distante dela. Esse desejo e paixão o assustavam, pois, sentia o quão seria difícil suportar o termino do relacionamento, se necessário fosse. Começava a crer que sua paixão parecia-lhe doentia pois ,por mais que se esforçasse ,não conseguia sustenta-la sem distanciar-se de si mesmo, e isto não era saudável e,ao seus olhos, nem correto ,pois o fazia sofrer, e aos seus.
Paulo não costumava freqüentar, com assiduidade, a casa de seus pais, a não ser em ocasiões festivas como natais e aniversários, mas, algumas vezes ,quando estava com Lipe, passava por lá, rapidamente, para que eles matassem a saudade do neto, que crescia com a rapidez de um raio, como toda criança feliz e saudável de sua idade.
Dona Claudia, mãe de Paulo, se enchia de alegria ,quando da presença do neto , e cobria-o de mimos. Já o Sr. Bruno ,avô de Lipe, mais austero e calado, tornava-se mais dócil e carinhoso ,e gostava de manter longas conversas, descrevendo acontecimentos do passado da família e de suas experiências de vida, o que fazia com que Lipe o admira-se e conserva-se grande respeito e admiração para com seu avô.
Único neto do casal, já que Rafael, irmão de Paulo, não se casara e, provavelmente, isso nunca aconteceria, dada sua deficiência mental que interferia diretamente em seus comportamentos e convivência social, Lipe aproveitava cada minuto, de suas visitas aos avós, que lhe faziam todas as vontades, pois não mantinha ligação tão próxima com seus avós maternos, já que os mesmos haviam se mudado ,a alguns anos,quando ele ainda era pequeno,para uma cidadezinha no interior do Estado de São Paulo e, raramente tinha oportunidade de se relacionar com eles,desta forma, todas as suas referências, como neto, foram calcada pelos pais de Paulo e acolhidas e correspondidas por Lipe ,que os via ,praticamente, como os únicos avós existentes em sua vida.
Rafael, por suas limitações, mantinha-se isolado e parecia não compreender, claramente, os laços de família que uniam Lipe e seus avós, portanto não se relacionava com seu
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sobrinho,demonstrando ,em certos momentos, ciúmes das atenções que o garoto recebia ,o que não era problema para Lipe que já compreendia as limitações de seu tio.
Paulo, observando o relacionamento de seu filho com seus pais, passaram a perceber que uma relação saudável e promissora, tem como base a reciprocidade. De nada adianta ceder ,se não houver o reconhecimento e respeito devido . Consciente de que havia muito a reavaliar em sua vida, e com seu compromisso profissional se aproximando, resolveu antecipar sua viagem, em alguns dias, para que utilizasse deste tempo para pensar e procurar ordenar melhor suas prioridades e valores, a fim de equilibrar suas idéias sem que seus desejos e sentimentos o envolvessem e interferissem, diretamente, em suas decisões.
Sincero, como sempre foi, em suas atitudes, deixou claro para Laura do porque de sua decisão de antecipar a viagem, e que já havia providenciado todas as alterações junto à agência de viagem e a pousada em que se instalaria em Mucuri. Laura parou, por uns minutos, pois, não esperava escutar de Paulo tais questionamentos, e tornou dizendo que ,talvez, esta fosse a decisão acertada,para que ambos refletissem sobre si mesmos e sobre eles,tentando, com isto, apóia-lo naquele momento, que a surpreendeu ,deixando-a com um sentimento de insegurança , por ter partido dele tal decisão.
Aquele não era o homem que ela estava acostumada a enxergar e conviver. Paulo mostrou-se claro e decidido, não dando margem para que ela o questionasse ou se manifestasse a respeito, sentiu-se desprotegida e assustada, pela primeira vez, com Paulo, pois temia perde-lo ,e não se via preparada para isto.
Aqueles últimos dias, que antecederam a partida de Paulo, pareciam como os primeiros e intensos momentos que viveram, ao se conhecerem, e isto pareciam deixá-lo ainda mais confuso, pois não lhe parecia natural que, com uma simples decisão pessoal, Laura alterasse tão rápido e radicalmente seu gênio e estado de espírito, o que lhe trouxe a certeza de que realmente tomara a decisão correta,não pela assustadora mudança de comportamento apresentado por Laura,mas para que avaliasse a real razão que a motivou pois, para ele, isto não era amor, e não queria mais alimentar sentimentos que não lhe eram correspondidos.
Laura, por sua vez, não agia daquela maneira dócil e compreensiva por falsidade ou premeditação, apenas reagia com seus instintos por estar acometida por uma insegurança e sentimento de perda, que ela não tinha e nunca teve, estrutura emocional para enfrentar.
Os relacionamentos de Laura, anteriores a Paulo, não se firmaram, pois, em determinada altura,quando se tornavam sérios ,ao ponto de exigir decisões mais firmes, de ambas as partes, ela se via encurralada e perdida, por isso, tomava o caminho mais pratico e rápido, fugia do compromisso e, demonstrando toda sua insegurança e infantilidade, respondia com agressão e displicência a aqueles que, até aquele momento, a tinham como única e especialíssima, deixando a todos.
Laura via sua vida se repetindo e nada fazia para alterar, o que para ela era inevitável, sua ânsia de viver ``livre’’, afastando-se dos prazeres de conviver, mais intensamente, com aqueles por ela escolhidos e conquistados.







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Capitulo. 5


Distância

Próximo à alma
Onde o corpo não toca
Pensamentos conversam
Os sentidos descansam















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Chegado o dia de sua viagem, Paulo e Laura levantam-se cedo, pois ela o levaria ao aeroporto e ficaria com o carro de Paulo à sua disposição, o que, normalmente, já acontecia. Seu vôo saiu logo ao amanhecer ,e Paulo procurou relaxar pois teria um dia cansativo com a viagem de carro até seu destino.
Lembrou-se de uma curta viagem, ao litoral, que havia feito com Laura e o quanto havia se decepcionado com seu comportamento infantil e egoísta naqueles dias, bem como de sua paciência e superação para que pudesse aproveitar os poucos bons momentos que este passeio lhe proporcionara. Não podia deixar de pensar no quanto lhe fazia sentir bem ,a companhia de Laura,mesmo com seus ataques de infantilidade, e o quanto lhe faria sofrer sua falta.Este conflito de emoções o deixava louco e indeciso,por isso mesmo havia antecipado sua viagem,pois não seria fácil ordenar seus pensamentos e sentimentos e decidir sobre sua situação, porem, tinha se dado a oportunidade de ficar só ,justamente para definir seu caminho ,dali para frente ,e faria isto.Desta vez estaria sozinho ,em uma linda praia quase deserta,ambiente mais que perfeito para refletir e descansar, mesmo que em poucos dias tivesse seu importante compromisso de trabalho.Procurou não pensar a respeito e considerar,naquele momento ,que estava em um passeio de férias .
Após uma curta viagem aérea, Paulo tratou de prosseguir, imediatamente, com a etapa de carro, alugado através da agência de viagem, que já o aguardava na cidade de Vitória, chegando por volta das quatro horas da tarde em seu destino, pois havia feito uma parada para o almoço e aproveitado para descansar por algum tempo antes de prosseguir.
Acomodado em uma simpática pousada, que havia sido indicada a ele pelo seu contato na empresa e que residia na cidade, Paulo aproveitou os últimos minutos de raios de sol para relaxar num curto, porem prazeroso, passeio à beira mar.
A praia curta, de areia solta e granulada, dada a força da maré, e o horizonte isento de qualquer presença, senão a de algumas poucas aves que traçavam o céu alaranjado ,com o pôr do sol,o silêncio quebrado ,apenas,pelo som do rolar das ondas e pela leve brisa salgada que impregnava e refrescava o corpo aquecido por um calor que parecia brotar das areias intocadas,até onde a vista alcançava,como se pisasse pela primeira vez em solo desabitado num outro sistema solar,num novo planeta,numa nova e desconhecida dimensão. Paulo viu-se só e, ao mesmo tempo, em paz e feliz, como a muito não se permitira, nesse mundo que, intimamente, sentia chamar-se “eu”.
De volta à pousada, logo ao anoitecer, após um leve jantar, resolveu recolher-se e descansar, depois de um longo e cansativo dia de viagem, para recuperar as energias, e levantar cedo e renovado no dia seguinte, para aproveitar, ao máximo, os momentos de descanso e reflexão que teria pelos próximos dias.
Deitado numa simples, porem confortável cama, em seu chalé, Paulo demorou a pegar no sono, envolvido com a paz daquele lugar, o som do mar batendo às portas de seus ouvidos, os pensamentos não se afastavam dele, porem, eram lembranças boas e acalentadoras que não emergiam a muito, e que estavam guardadas em seu subconsciente esperando serem requisitadas, trazidas à tona, até que, após algum tempo, entregou-se ao cansaço e adormeceu, leve e suavemente, como criança cercada por anjos.
Laura parecia ainda não ter sentido as mudanças em seu ritmo de vida, em seu primeiro dia sozinha, mantinha sua rotina que, por estar às vésperas de suas férias, estava chegando ao fim, o que lhe proporcionaria condições e tempo para que refletisse e se permitisse sentir e enxergar

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sua situação atual ,para assim ,avaliar, com o correr dos dias ,suas reais necessidades ,no trilhar de seu caminho em busca da felicidade.
Laura passou o dia irrequieta, pois Paulo não havia dado sinal de vida desde sua partida, e mesmo tendo como ligar e aliviar sua aflição, não o fez ,por motivos que ela mesma desconhecia ou ,na verdade, não queria assumir.Ela não se mostraria apreensiva nem frágil diante daquele primeiro momento de real separação entre eles ,desde que haviam se conhecido.
Contentando-se com o fato de que notícias ruins correm rápidas e, ciente da razão de Paulo ter antecipado sua ida à Bahia, Laura resolveu aguardar e, distanciando-se da ansiedade, foi relaxando e assumindo sua, momentânea, condição de solteira, passando há planejar seus dias com o maior número possível de atividades que lhe traziam prazer e que raramente tinha condição e tempo de praticá-las, como, caminhadas, cinema, exposições, teatro e as tão necessárias, indispensáveis, bem como prazerosas compras superfulas, que toda, ou quase toda mulher, mentem encabeçando sua lista de necessidades básicas.
Paulo havia acordado cedo, como planejara, e antes de tomar seu café da manhã, fez algumas ligações, sendo uma para seu filho Lipe, que mantinha sempre contato e procurava deixa-lo a par de onde estava e o que fazia nas ocasiões em que se falavam, no intuito de fazê-lo sentir-se importante e presente, outra ligação para sua amiga Andréa, pois tinha grande prazer em ouvi-la e de transmitir suas impressões e contentamentos, e um terceiro telefonema para André,pois tendo antecipado sua vigem,achou por bem aceitar,também,a ajuda dele para manter a coordenação e atendimento de seus clientes,pois André tinha como habito estar ,ao menos,por todas as manhãs ,presente no escritório e não se incomodava em colaborar e manter o amigo e a par dos acontecimentos ,e a prestar esclarecimentos a seus clientes,deixando a cargo de Laura ,somente, a responsabilidade do envio de materiais ,pagamentos e acertos de contas,previamente programadas.Propositalmente, não telefonou para Laura ,pois temia que se o fizesse ,perderia sua objetividade quanto a avaliação de seus sentimentos e de seu futuro junto a ela. Porem, para não a deixar preocupada ou magoada com isto, tratou de escrever-lhe um lindo cartão no qual exprimia suas emoções e tranqüilizava-a quanto a sua condição em tão agradável lugar, que se via em foto no verso do postal. Mesmo mantendo uma relação de certa distância, com seus pais,Paulo achou por bem enviar um outro lindo cartão,com uma bela vista da praia local, para Dna.Claudia pois, sabia que sua mãe iria sentir-se grata e comovida com a lembrança e carinho do filho,mandando em meio ao texto,lembranças e um abraço para o Sr.Bruno,seu pai.
Tudo parecia correr dentro do esperado, para ambos, pareciam estar mantendo certa comunicação telepática, pois eles, sem consciência disto, entendiam-se e respeitavam-se, a distância, quase que melhor do que quando dividiam o mesmo espaço.
Paulo tratou de sair, após um leve porem saudável café da manhã, dirigindo-se à praia onde se estendeu na areia e entregou-se aos ardentes, porem prazerosos, raios de sol da manhã, onde permaneceu, por bom tempo, quase que imóvel, como se estivesse re-carregando as baterias.
Esses primeiros momentos de prazer e solidão, não o estimulavam a pensar ou avaliar sua situação com Laura, e muito menos rever, mentalmente, sua apresentação de campanha, que ocorreria dali a alguns dias. Queria apenas entregar-se à luz e esvaziar-se de quaisquer pensamentos, isto sim poria fim ao stress e, mais tarde, o poria em profunda sintonia com si mesmo.Laura, igualmente dispersa, iniciou seu ultimo dia de trabalho, com a preparação de seus alunos para uma pequena apresentação, na festa de encerramento do semestre, como é de costume em praticamente todas as escolas.
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Como estaria livre dos compromissos para com o colégio, por volta do meio dia, pretendia passar aquela tarde em um shopping center que, alem de localizar-se próximo ao colégio, conquistava sua simpatia, e ela conhecia, como a palma de sua mão, a localização de suas lojas preferidas e cinemas, o que a fazia passar horas prazerosas em seu interior.
Mesmo Paulo a acompanhando, de vez em quando, ao cinema, ela tinha consciência de
que ele não era grande apreciador das salas,preferindo o conforto de casa, assistindo seus filmes, em vídeo ou nas programações dos canais contratados, por este motivo Laura limitou suas idas as salas de cinemas,o que pretendia faze-lo, quase que diariamente, nos próximos dias ,já que não estaria vinculada à companhia dele.
Ambos iniciaram seus primeiros momentos, distantes um do outro, resgatando, com maior energia, alguns hábitos e prazeres que tinham e que haviam se afastado por conta de algo maior e mais importante: “a paixão”.
Paulo estava maravilhado com a atenção dispensada a ele por aquela gente de simplicidade e carisma contagiantes. Por ser uma cidadela, e não receber grande número de turistas, pois, grande parte das ocupações das pousadas era de visitantes que mantinham negócios com a empresa que Paulo iria negociar, assim, praticamente todos eram nativos ou migrantes que vieram do Estado de Minas Gerais e montaram pequenos negócios na cidade como: pousadas, restaurantes, bares e salões de baile onde, ao cair da noite, tocavam forró, ao vivo, até a madrugada, por este motivo os poucos visitantes eram sempre tratados com extremo carinho e atenção.
Tendo, a Pousada do Sol, onde Paulo se hospedara, sido construída à beira mar, a própria atendente o servia, aperitivos e aquela cervejinha bem gelada, na praia, o que fazia com que Paulo se sentisse num paraíso de comodidades. Com um mar límpido e de um verde esmeralda que se fazia irresistível,Paulo ,de quando em vez ,aproveitava para refrescar-se,passando a forte arrebentação,e punha-se a nadar ou,simplesmente, flutuar de costas nas mornas,salgadas e remexidas águas do Atlântico, que banhavam aquela costa.
Paulo passou seu primeiro dia refazendo-se, naquele paraíso litorâneo, bronzeando-se e se renovando nas águas salgadas do mar, absorto de tudo e de todos. Não abandonou seu lugar ao sol, nem mesmo para almoçar,visto que o serviço de aperitivos e bebidas que lhe foi prestado ,ali mesmo, a beira mar, deixou-o mais do que satisfeito.
Ao entardecer, Paulo resolveu recolher-se, pois havia tido um dia maravilhoso e relaxante, mas, tendo estado exposto a sol por todo o dia, sentiu certo cansaço, pois não estava acostumado a isto, tomou uma boa e agradável ducha fria e entregou-se ao sono e sonhos que aquele paraíso litorâneo o proporcionava.
Laura, por sua vez, em companhia de uma amiga do trabalho, também professora, havia passado, praticamente, toda tarde nas salas de cinema do shopping, assistindo a dois filmes, coisa que não fazia desde sua juventude. Terminada a seção,resolveram jantar ,por ali mesmo, e colocar a conversa e novidades em dia,visto que os horários livres que tinham no trabalho ,não lhes proporcionava tempo para longos e agradáveis papos.Assim que terminaram,despediram-se e Laura seguiu,diretamente,para seu apartamento,pois sentia-se exausta com toda atividade que o dia lhe impingiu.
Como de costume, tomou um relaxante banho, esticou-se na cama para alongar-se e ligou a televisão, a fim de distrair-se e esperar que o sono chegasse, o que não demorou a acontecer, fazendo com que adormecesse sem nem mesmo desligar o aparelho, apesar do mesmo ter sido programado para desligar-se automaticamente dali a algum tempo.

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Capitulo. 6


Inspiração


Morte súbita
Imediata e plena ressurreição













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Em férias, Laura procurou deixar o apartamento o mais organizado possível, resolveu arrumar cada centímetro dele, limpando e recolocando cada item de cada armário e prateleira que mobiliava a casa.
Como em toda faxina que se preze, Laura retirou sacos de inutilidades e, até mesmo, objetos que desconhecia a existência, e outros que não fazia idéia de sua utilidade. Iniciando pela cozinha,lugar da casa que Laura mantinha sempre impecável,no tocante a limpeza e organização,retirou todos os utensílios e eletrodomésticos e desinfetou cada centímetro quadrado do lugar,que mais parecia a sala cirúrgica de um hospital,tamanho empenho empregado por ela e, retornando,posteriormente,item por item em seus devidos lugares após, ,evidentemente, lavar minuciosamente cada um deles,mesmo que já estivessem aparentemente limpos.
Passou, praticamente todo o dia para executar tal empreitada, porem, ao término, por volta das três horas da tarde, ao avaliar seu feito, sentiu grande prazer pelo objetivo conquistado, e deu por conta que ainda não havia, sequer, almoçado. Resolveu ,então,dar por encerrada a limpeza, por aquele dia,e sair para saborear um lanche em uma lanchonete próxima pois, nem cogitaria em preparar algo para ela na cozinha que deixara impecável,e depois retornar para usufruir de um merecido descanso,tomou um longo e re-vigorante banho,arrumou-se e saiu .
Sendo, a lanchonete, próxima ao apartamento,Laura resolveu ir caminhando,sentou-se e fez seu pedido costumeiro, x-salada com a maionese à parte e um belo milk shake de chocolate. Enquanto aguardava seu pedido,sentada em uma mesa na parte superior do estabelecimento,que era calmo e arejado,passou por seus pensamentos ,que estavam dirigidos ao término da limpeza geral do apartamento que aconteceria no dia seguinte,o quarto ,e Laura fixou-se, com interesse e curiosidade, na cômoda ,ali posta ,e o que faria quando chegasse a ela,pois seria irresistível o impulso de remover seu conteúdo para retirar todo pó e sujeira que,provavelmente,deveria existir em seu interior,visto que ,ela mesma ,nunca havia sequer, aberto suas gavetas para aspira-las ou espana-las,temendo que isto pudesse aborrecer Paulo e ,de alguma forma,criando algum conflito entre eles ,desnecessariamente.
Servido seu lanche, Laura pôs-se a comer, e tão logo se deu por satisfeita, tratou de pagar e retornar ao apartamento, pois se sentia fisicamente esgotada depois de um dia de intenso trabalho braçal, deitou-se e, quase que imediatamente, envolveu-se em profundo sono.
Paulo, novamente, entregou-se ao sossego da areia da praia, como no dia anterior, porem tomou a precaução de solicitar um guarda-sol, cedido pela pousada, e envolver todo corpo com protetor solar, visto que sua pele já sentia a força e intensidade do calor dos raios solares que, por não estar acostumada a constante exposição, apresentava intenso ardor causado pelo excesso cometido no dia anterior.
Relaxado, de olhos fechados, o som das ondas quebrando aos seus pés e a leve brisa que soprava e refrescava sua pele, Paulo deixou-se envolver em pensamentos, revivendo antigas, porem marcantes, lembranças de momentos agradáveis que havia tido e sentido, o que lhe conduziu a Laura, e aos seus sentimentos, agora confusos, por ela. A primeira visão que teve de Laura, foi quando seu olhar se fixou naquela mulher, criatura perfeita, a seus olhos, anestesiando todo seu corpo, levando sua temperatura às alturas e derrubando-a, num mesmo momento, como numa montanha russa, fazendo com que seu corpo todo transpirasse e seu cérebro ignorasse toda e qualquer tentativa de reação, era o êxtase, recordava ele, daquele primeiro momento que a viu.

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Deixando-se levar pelas lembranças, Paulo sentia que suas emoções pareciam brotar de seu subconsciente, relaxou, e permitiu dominar-se por ele que, naquele momento, o fazia resgatar
passagens de sua vida,essencialmente agradáveis, que ele acreditava terem sido apagadas ,a muito,de sua memória.
Trouxe a tona, antigos relacionamentos, momentos agradáveis que havia vivido ao lado daquelas que, em momentos de sua vida, foram consideradas, por ele, a metade faltante em sua existência, e que o tempo fez provar que seus sentimentos o haviam cegado, ou sua inexperiência o havia iludido em meio aos prazeres e emoções que vivenciara.
Homem de poucos, porem intensos, relacionamentos, Paulo tivera, anteriormente ao seu casamento com Carla, uma grande e intensa paixão, por uma mulher nove anos mais velha que ele, naquela época, já separada, tinha uma linda filha com sete anos de idade, e Paulo abraçou-as como suas e procurou assumir as responsabilidades de uma família, mesmo aos seus vinte e poucos anos, passando, inclusive, a morar com elas, mesmo que por curto espaço de tempo.
Amadureceu com esta experiência, mas também sofreu a desilusão de ver seus esforços e conquistas, ruir diante de seus olhos ao ser rejeitado e afastado, após pouco mais de um ano, de maneira direta e insensível, por aquela que ele acreditava ser a mulher de sua vida.
Passado este momento de sua vida e, após algumas relações superficiais e improdutivas, eis que surge, inesperadamente em sua vida, Carla, aquela por quem ele se entregou de corpo e alma e quem lhe proporcionou e o elevou a divina condição de pai , amadurecendo em sua maneira de enxergar e viver suas relações,valorizando sentimentos como a amizade,o companheirismo,a cumplicidade, sentimentos estes alheios à sua consciência , até aquele momento,pois,até então só fazia mergulhar, profunda e intensamente, no oceano da paixão que, por sua vez, transformava-o num homem,mesmo que inconscientemente, egoístas e possessivos.
Seu casamento com Carla, por motivos diversos ou veladas culpas, resistiu por poucos, porem intensos anos, e passados àqueles momentos de angustia e ressentimentos ,quando da separação do casal, retomaram numa amizade sincera e tranqüila, condição essencial para que Lipe crescesse feliz e sentindo-se querido e amado pelos pais.
Mais uma vez, Paulo viu-se sozinho, entregou-se ao trabalho e, com o tempo, passou a buscar uma nova relação, estável e, como sempre se espera, duradoura.
Novamente surgiram encontros e conseqüentes desencontros. Paulo sentia que,dada suas experiências passadas,temia envolver-se com mais intensidade,mesmo que fosse este seu anseio e desejo.Procurava atribuir sua exitação ao fato de estar mais seguro ,maduro e seleto em sua busca,porem sempre ciente de que quando ,ansiosamente,se deseja algo,mais distante e desgastante esta busca se torna.
Seus relacionamentos mais intensos e promissores surgiram em momentos inesperados, por este motivo ele sempre lutava para estar bem e feliz consigo mesmo para que,quando e se surgisse a “mulher certa” em sua frente,estivesse pronto e disposto a dar inicio a uma nova relação.
Horas se passaram,quando Paulo deu por si e retornou de sua viagem às antigas memórias e, já entediado de ficar ali exposto ao sol , tendo somente a si mesmo como companhia,retornou a pousada e indagou ,com funcionários, onde encontraria um lugar animado e bem freqüentado,para ir mais tarde ,onde pudesse ouvir boa música ,tomar um drink e descontrair um pouco,conversando e convivendo com o pessoal local.
Atenciosos, como sempre, de imediato lhe indicaram um agradável e bem freqüentado local chamado, convenientemente, de “Ponto de Encontro” que, não só satisfaria suas

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expectativas,como se tornaria o local predileto para encerrar,com descontração e bom astral ,os finais dos dias de lazer que Paulo se proporcionava.
Paulo chegou ao chalé e aproveitou para ligar para André e colocar-se a par dos acontecimentos, pois não poderia deixar o amigo desamparado no que dizia respeito a seus negócios. Verificando que tudo corria tranqüilamente,arrumou-se,comeu algo leve e saiu para conhecer o tal lugar.
Caminhando pela rua estreita e sem pavimento algum, pois, com exceção de algumas das ruas centrais, da pequena cidade, todas as demais se faziam com areia e terra batida, reforçadas com cascalhos, jogados pela prefeitura, a fim de evitar afundamentos e estragos causados pelas águas das chuvas que, ocasionalmente, vinham volumosas e violentas. Paulo sentia o frescor da noite e a beleza rústica do lugarejo, precariamente iluminado e emoldurado pela escuridão, o que lhe inspirava. Procurou registrar em sua memória a bela cena e os sentimentos que ela extraia dele para, posteriormente, resgata-los,interpreta-los e transferi-los para suas telas .
Realmente se tratava de um agradável estabelecimento, uma ampla varanda em forma de ferradura contornava a pista e um pequeno palco, localizados no centro, a céu aberto, criando um clima agradável e arejado, refrescado pela brisa noturna que soprava entre ele e aquele inspirador teto negro estrelado, como nunca havia visto antes céu igual.
Mesmo com o agitado som que, batendo ao ritmo do forró, mantinha os presentes dançando com entusiasmo, e num volume um pouco alem do que considerava agradável ou ideal, Paulo sentiu-se a vontade, bebeu um pouco, conversou com algumas pessoas, relaxou e retornou à pousada empolgado com o clima e animação que o lugar lhe proporcionou. Seguiu ,diretamente,ao seu chalé e desmaiou em sua cama ,cansado ,porem satisfeito.























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Capitulo. 7


Realizações


Caminhar em busca da junção dos trilhos
Alcançar o horizonte
Sentir-se próximo











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Paulo sentia estar resgatando seus instintos mais primitivos, e a carga de coragem e determinação contida neles que, com as atribulações da vida e do dia a dia, ficavam ocultos e distantes de seu consciente. Passava a ver e avaliar ,com outros olhos,seu relacionamento com Laura.
O resgate de seus sentimentos, dos relacionamentos passados, e a lembrança dos momentos difíceis, superados por ele, com o termino dessas paixões, fizeram-no refletir quanto a real razão de sua fixação por Laura, e a fraqueza que o acometia quando pensava na possibilidade de perdê-la.
Teria ele, definitivamente, encontrado sua cara metade? Seria, realmente, aquele sentimento que cultivava por Laura, amor? Ou estaria ele, omitindo a verdade dele mesmo, por medo de, novamente, sofrer ou receio de não mais encontrar alguém que despertasse nele a intensa paixão, pois, Paulo considerava-se uma pessoa de qualidades, porem sentia, por vezes, que seu magnetismo e charme estavam se esvaindo com a idade, e pelas manias que a acompanham.
Quem sabe a insegurança passava a dominar seus pensamentos e a comandar suas atitudes, fazendo com que ele aceitasse, como verdadeiro, um sentimento criado, unilateralmente, por ele, e que, aos poucos, foi se transformando em numa forma de doença ou vício?!
Paulo, que acreditava conhecer o amor verdadeiro, passou a questioná-lo. Talvez estivesse partindo do ponto errado,ao buscar as respostas que necessitava,pois procurava medir seus sentimentos por Laura e avaliar os de Laura por ele,porem, algo estava faltando ou sendo omitido nesta simples regra:O como Paulo se sentia em relação a si próprio?A que nível estava sua auto-estima?O quanto ele, realmente, havia feito por si mesmo e não por aquela que ele elevara, prioritariamente, acima de sua própria pessoa?!
Paulo passou a não mais pensar em Laura ou em sua relação com ela, buscando aprofundar-se nele mesmo. Mesmo acreditando estar sendo egoísta e insensível, tinha a convicção de que esta era a formula correta para solucionar o impasse que vivenciava.
Paulo percebera que,a cada vez que se apaixonava,desprendia-se dele mesmo e passava, quase que a viver, unicamente, a vida da outra pessoa, anulando-se, e isto não condizia com seu comportamento normal de quando estava só,ou sem um relacionamento.Esta falha comportamental que alterava ,inconscientemente,sua personalidade , era de conhecimento de Paulo ,que mantinha-se alerta e procurava questionar-se sempre que acreditava estar sendo acometido deste sintoma,a fim de equilibrar-se e manter saudável a relação vivida.Talvez não estivesse conseguindo executar um bom trabalho a este respeito, e isto o fazia ponderar sobre o como superar essa sua deficiência,e avaliar se ,realmente, seria esse o fator que lhe causava a atual angustia ,e certa insegurança, em relação ao que sentia por Laura.
Mesmo confuso e com raciocínios controversos, Paulo tinha uma certeza, estava só, distante de tudo e de todos que gostava, e sentia-se com forças para prosseguir com sua vida e para superar toda e qualquer intempérie que, por ventura, cruzasse seu caminho.
Querendo tornar, de certa forma produtivo, seu tempo durante aqueles dias de descanso, Paulo procurou, pelo centro da cidade, uma papelaria ou casa de tintas, a fim de adquirir materiais, simples, mas apropriado,para registrar algumas das belas cenas e paisagens do lugar,através de seus desenhos e pinturas. Encontrou material adequado para aquarelas e ilustrações com grafites, barras de pastel e tintas, materiais que ele apreciava e dominava as técnicas.
Passou pela sua cabeça, produzir uma seqüência de telas inspiradas naquela região e nas emoções e sentimentos que estava vivendo, para posteriormente organizar uma exposição desses
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trabalhos,algo que nunca havia feito ,seja por falta de oportunidade ou de empenho.
Para que fosse possível entregar-se a este projeto, pensou em prolongar sua estada em Mucuri, após sua reunião, e para isto necessitava de algum recurso financeiro, pois não tinha condições de guardar qualquer dinheiro, já há algum tempo.
Ciente da admiração de Andréa, por sua arte, pensou em, talvez, propor a ela que financiasse este seu projeto, pois a amiga, empresária bem sucedida, encontrava-se em boa e estável situação financeira ,e talvez o apoiasse, recuperando o capital empregado, que não seria muito, após a venda dos trabalhos ou, se fosse de seu gosto, adquirindo alguma obra que lhe agradasse.
Paulo resolveu aprofundar-se mais na idéia, planejar e efetuar um levantamento dos custos para então avaliar a possibilidade de executa-la.Sabia que ,por não ter nome nem ser conhecido no universo das artes plásticas,seria difícil promover uma mostra e negociar suas obras,mas sentia-se disposto a tentar, e dar início a uma nova direção em sua carreira artística que,talvez,viesse a lhe proporcionar alegrias e conquistas que a publicidade não mais lhe trazia.
De volta a pousada e ao seu chalé, sentou-se na pequena varanda na entrada do mesmo e arriscou alguns traços, porem sem inspiração, naquele momento, guardou seu material e partiu para praia, a fim de caminhar um pouco, à beira mar.
Laura, envolvida com sua limpeza, havia deixado a sala e banheiro do pequeno apartamento, impecáveis, porem deixou o quarto do casal por ultimo, e ainda não havia começado seu serviço naquele aposento.
Sentindo-se só, Laura pegou no telefone e ligou para Andréa, com o intuito de convidá-la para vir a sua casa, sob o pretexto de mostrar-lhe as pequenas, porem agradáveis, mudanças que havia impetrado no apartamento que, sabia que Andréa conhecia de quando Paulo morava só, e passarem uma tarde agradável, papeando e saboreando um delicioso café acompanhado de alguns irresistíveis quitutes que ela havia encomendado, justamente para a ocasião.
Andréa, um pouco surpresa, aceitou prontamente o convite, sentindo-se lisonjeada com a atitude e consideração de Laura, e prontificou-se a levar um delicioso licor para complementar à tarde de abusada ingestão de calorias, vilãs de todas as mulheres, pecado que estavam prontas, dispostas e felizes por cometer, em nome da amizade, do prazer e da gula.
Andréa chegou e, depois de breve comentário elogioso, referente às pequenas, porem de bom gosto, mudanças feitas por Laura, no apartamento, sentou-se, juntamente com Laura e iniciaram agradável conversa, falando sobre todo e qualquer assunto que lhes viessem à mente, em sua maioria, superficiais e desinteressados como só mesmo as mulheres têm o dom de manter.
Não encontrando nenhum novo quadro de Paulo, exposto pela casa, Andréa perguntou a Laura se haveria, algum outro trabalho dele, guardado ou pendurado em algum outro lugar, e ficou sabendo, pela amiga, que Paulo, já há algum tempo, não se dedicava à pintura e aos desenhos, senão aqueles dirigidos às campanhas e anúncios de seus clientes.
Sentida pelo fato de saber que seu amigo não encontrava mais inspiração para suas obras,que tanto ela apreciava, achou por bem não questionar os prováveis motivos causadores do afastamento de Paulo por suas obras, e prosseguir com o bate papo que a estava proporcionando agradável e divertida tarde, junto à nova amiga.
Laura buscava conhecer um pouco mais sobre a amizade entre Paulo e Andréa, mostrando-se curiosa e fazendo-lhe perguntas, por vezes inconvenientes, porem Andréa procurava responder a todas as suas curiosidades de forma a não comprometer o amigo, pois sendo uma mulher de bom senso,não sentia-se a vontade em tecer comentários ,de ordem pessoal, na ausência do mesmo.

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Ao cair da tarde, chegando o momento de Andréa se despedir e voltar à sua casa e a seus afazeres, Laura atende uma ligação de Paulo e comenta, após tecer algumas carinhosas palavras e juras de saudades, da presença de Andréa, o que o deixou surpreso, porem satisfeito por ver que sua mulher e a melhor amiga dele, estavam se relacionando e mantendo um vínculo de amizade, sem que fosse necessário sua presença ou interferência. Paulo conversou brevemente com ambas e despediu-se ,comentando com Andréa que voltaria a falar-lhe ,numa outra hora,sobre algumas idéias que haviam lhe vindo à cabeça e que ,se resolvesse pô-las em prática,provavelmente solicitaria certa ajuda e apoio dela,o que fez com que Andréa,mesmo sem ter noção do que se tratava,se prontificasse a colaborar e apoiar o amigo no que estivesse ao seu alcance,e que aguardaria seu contato quando estivesse pronto ou disposto a participa-la de seus planos.
Logo após Laura desligar o telefone, Andréa despediu-se e retirou-se com certa pressa, evitando assim, comentários ou questionamentos sobre sua conversa com Paulo, mesmo porque não saberia o que dizer por ainda não ter sido participada de seus planos.
Paulo foi até a varanda e,ao ver a bela noite que fazia,pegou seu material de desenho e pôs-se a traçar aquele que seria o primeiro de uma seqüência de belos e expressivos quadros, inspirados em seus momentos naquele lugar. Envolvendo-se com sua arte,passou horas ali,sem que desse conta do tempo, até que,enfim,deu-se por satisfeito, finalizado aquele primeiro trabalho que abriria a porta para toda uma seqüência que estaria,em breve ,sendo expostas por ele em sua primeira mostra .Animou-se e ,de imediato, passou a calcular os custos imediatos e futuras despesas que viriam até que finalizasse seu projeto.
Já tarde da noite, mesmo empolgado com seus planos, e com a possibilidade de obter algum ganho com sua arte, coisa que nunca pensara em fazer, Paulo decidiu descansar, e falaria com sua amiga no dia seguinte, para ver se conseguiria seu apoio e patrocínio, para então planejar sua permanência na pequena cidade baiana, acertando com André, para que ele cuidasse de seus assuntos de negócios, em São Paulo, por mais alguns dias, e comunicar a Laura de sua decisão de prolongar, mais uma vez, sua estada em Mucurí.



















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Capitulo. 8


Descobertas


Acreditar em Papai Noel
Fantasiando-se no Natal
Admirando, de noite, o céu











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Laura iniciou seu dia animada e pronta para terminar sua arrumação geral da casa, que se encerraria com o ultimo cômodo a ser, detalhadamente, limpo, o quarto do casal. Começou pelo guarda roupas,retirando tudo que havia em seu interior,separando ,inclusive,varias peças de roupa e calçados que ,a muito, não eram usadas por eles ,para que fossem doadas ,criando assim espaço para melhor acomodar e organizar seus pertencer e os de Paulo.
Por ser um ambiente pequeno, Laura deixou-o, em pouco tempo, impecável, da mesma forma que havia deixado o restante da casa. Sentada na cama,observava a cômoda ,ocupada ,unicamente,com pertences de Paulo,e convenceu-se de que não estaria agindo mal se retirasse seu conteúdo para limpa-la, por completo,e retornasse todo material em seu devido lugar.Abriu a primeira gaveta e encontrou ali algumas cartas,pensamentos por ele escritos,cartões,fotografias,antigos bilhetes de acesso a shows,cinemas ,teatro e jogos.Curiosa com aquilo,que via como um grande e desnecessário acumulo de inutilidades,resolveu organizar todos aqueles papeis, em ordem cronológica ,para que assim,analisando com mais atenção e detalhes ,tentasse entender a razão que levou Paulo a guardar aquilo tudo ,por tanto tempo e com tanto carinho pois, sendo ela uma mulher prática e objetiva,nunca lhe ocorreu guardar tais objetos que,para ela ,a primeira vista,não passavam de tralha.
Paulo acordou disposto e bem humorado, seguiu direto a praia para caminhar um pouco, antes mesmo de tomar seu café da manhã.
Durante a caminhada, passou a observar, com maior atenção, todo cenário ao seu redor, buscando novas inspirações que o envolvesse em uma nova tela, o que parecia-lhe fácil,pois tudo ali , naquele momento, o agradava e fazia sentir-se parte integrante daquele paraíso que o circundava.
Fazia alguns dias que Paulo não falava com Lipe, que também viajava, pois com o início das ferias escolares e o planejamento de sua viagem, Carla, sua ex-esposa, havia programado um pequeno passeio, de duas semanas, com o filho, para o Guarujá, litoral paulista, onde costumava passar as férias e finais de ano, mesmo ciente de que Lipe tinha predileção pelo interior e pelo campo, pois a maresia e o calor úmido do litoral não o agradavam muito, portanto Paulo sentia-se tranqüilo e conformado por saber que Lipe estava aproveitando, de alguma forma, seu período de descanso.
Sabendo que, também seus pais haviam viajado, como em todo ano, para um hotel fazenda no interior do Estado de São Paulo, mais precisamente em Serra Negra, para que seu irmão Rafael tivesse oportunidade de conviver, mais intensamente, com a natureza e manter contato com animais típicos das fazendas como, cavalos, vacas, porcos, pois isso o ajudava a relaxar, aprimorar sua coordenação, o que fazia com que Rafael reagisse melhor, mesmo que por apenas algum tempo, à convivência e relacionamento com as pessoas à sua volta, sabia que não adiantaria ligar para colocá-los a par de suas decisões, mesmo porque, havia deixado o número do telefone da pousada com sua mãe, caso ela tivesse necessidade de contatá-lo em qualquer situação de maior urgência.
Ansioso por obter as respostas que precisava para sua nova empreitada, porem cedo demais para que providenciasse as ligações necessárias, procurou voltar seus pensamentos à reunião que aconteceria no dia seguinte, relembrando e reforçando os tópicos que seriam, por ele, abordados a fim de apresentar uma boa impressão neste primeiro encontro com os representantes do grupo.
De volta à pousada, e após o café, Paulo resolveu entrar em contato com André, que sempre chegava cedo ao escritório, para saber como andavam as coisas e especular com ele quanto a
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possibilidade de ajuda-lo,monitorando e atendendo seus clientes ,quando necessário,por mais uns dias ,se fosse o caso dele prolongar sua estada na Bahia.André ,como sempre ,prestativo, não colocou obstáculo quanto a solicitação do amigo,mesmo porque os poucos afazeres que os clientes de Paulo proporcionavam ,não lhe tomavam tempo e não atrapalhavam em nada seus negócios.Alem do mais,André sentia,pelo tom de voz do amigo, que esta viagem o havia feito um bem imenso,pois Paulo se mostrava calmo,seguro e empolgado como ,a muito, André não o via.
Andréa, por sua vez, mesmo levantando-se cedo, tinha por costume não aparecer em sua empresa antes do meio dia, mulher mística e esotérica, utilizava-se das manhãs para meditar, relaxar e dedicar-se a atividades que não às de seus negócios junto a sua empresa.
Compenetrada com pesquisa que fazia na internet, pois Andréa buscava, na rede mundial, manter-se informada das noticias e novidades que surgiam sobre assuntos de seu interesse ,quando atende a ligação de Paulo ,que foi logo se desculpando por telefonar assim tão cedo, sabendo que a amiga reservava a manhã para si própria e não gostava ou não estava acostumada a ser interrompida em seus afazeres.
Colocou Andréa a par de suas idéias e, sem rodeios, expôs suas necessidades, solicitando, se possível, seu apoio.
Andréa, por admirar o trabalho artístico do amigo e incentiva-lo sempre que tinha oportunidade, dispôs-se a participar do projeto sem nem mesmo questionar maiores detalhes quanto aos custos por ele levantados, deixando a seu critério e bom senso quando e como utilizar dos recursos que ela colocara a sua disposição.
Radiante com o apoio e presença de espírito de Andréa, Paulo agradeceu e despediu-se, após indicar, para a amiga, onde deveria ser enviado os primeiros valores, a fim de cobrir as primeiras despesas relativas à sua estadia, na pousada, por mais alguns dias e outros materiais que ele iria adquirir para valorizar seus trabalhos que, daquele momento em diante, seriam corpo e alma de sua primeira exposição pública. Saiu ,em seguida, em direção ao centro para buscar as telas , tintas,pincéis e alguns outros apetrechos necessários,deixando para comunicar e explicar a Laura sobre sua decisão quando retornasse das compras.
Entretida com o conteúdo daquela primeira gaveta, Laura assustou-se ao ouvir o toque estridente do telefone. Era Paulo ,que foi logo comunicando a ela de sua decisão e objetivo pelo qual ficaria fora por mais alguns dias,porem, não detalhou a ela de onde viria os recursos para isto,achou por bem esclarecer melhor os fatos quando retornasse e fosse indagado, por ela ,sobre o assunto.
Laura aceitou, com certa passividade, a decisão dele, até porque estava ansiosa para retornar à “invasão de privacidade” de Paulo, sob o pretexto de completar sua arrumação e limpeza da casa.
Passou a ver, com maior clareza, o coração de Paulo, naquela gaveta, e a enorme admiração e amor que tinha por Lipe ali se confirmava, com objetos, desenhos e cartões feitos pelo garoto e presenteados a ele,bem como textos escritos por Paulo,e nunca enviados ou entregues para que fossem lidos, e que expunham toda alegria e sofrimentos vividos por ele quando do afastamento de Lipe, ainda criança, por razão de seu divórcio. Poucas fotos que não fossem de seu filho,estavam ali guardadas,uma antiga foto de Paulo com seus pais,Dna.Claudia e Sr. Bruno, e algumas de seu tempo de colégio,quando aparentava ter cerca de dezesseis anos ,com sua turma da época.Pareciam unidos,felizes e cheios de sonhos,e neste aspecto,Laura acreditava que Paulo conservava essa esperança na vida ,com seu humor ,sua arte e empenho no trabalho.
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Sentiu que Paulo, realmente, vivia uma grande paixão pela vida e por aquelas pessoas que o rodeavam, e seus sentimentos por ela, não só eram reais como, talvez até, mais intensos do que ela mesma poderia avaliar.
Junto às poucas imagens, de seu tempo de ginásio, Laura encontrou dezenas de convitinhos e recadinhos, daqueles de correios elegantes do tempo de escola, e lendo-os, via o quão Paulo era querido, estimado e paquerado pelas adolescentes do tempo de escola, palavras de amor, de paixão, e viu despertar, nela mesma, as emoções e sentimentos ali descritos, pelo homem que ela entregara-se e vivia.
Tomada por seus sentimentos, que aflorava em meio a suas descobertas, Laura manteve todo aquele material separado e organizado num canto do quarto, dentro da respectiva gaveta, e retirou a segunda gaveta da cômoda, a fim de explorá-la, porem, não naquele momento, pois precisava preparar algo para comer, visto que não havia se alimentado direito até àquela hora.
Paulo, acomodado na varanda de seu chalé, entregava-se a sua arte, com seus sentimentos aflorados, fazia nascer na grande tela, posta em um simples cavalete adquirido por ele, um belo quadro, vivo, intenso, com leveza em sua imagem e nas pinceladas, por ele aplicadas com precisão. Parecia renascer nele a crença em si mesmo e a certeza de que caminhava para tempos melhores ,com uma vida menos atribulada e maior presença e reciprocidade de seus sentimentos.
Em meio a um trabalho, Paulo, por vezes, abria mão dos pincéis que lhe auxiliavam na aplicação das tintas e nuanças, e às aplicava com os dedos das mãos, com firmeza e vigor, criando movimentos e texturas impossíveis de serem alcançadas de outra forma.
Interrompendo seu trabalho, ao cair da tarde, Paulo procurou comer algo, retirar do armário o material correspondente à apresentação que faria no dia seguinte, e relaxar um pouco com uma caminhada a beira mar, o que já se tornara costume, naqueles dias, pois o dia seguinte seria difícil e Paulo queria estar o mais bem preparado possível para enfrentar aquela maratona profissional.
Paulo e Laura pareciam estar conseguindo encontrar seus sentimentos e objetivos, aparentemente mais ligados entre si, do que quando convivendo e dividindo o mesmo espaço físico e partilhando seu dia a dia. A distância ,certamente,os havia aproximado e os revivido.
















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Capitulo. 9

Renovações


Viver a vida como uma espiral















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Paulo levantou cedo e, como de costume, foi caminhar, tomou seu café e preparou-se para a reunião, aguardada há dias, porem, em seu intimo ,parecia-lhe não ter mais todo aquele valor, mas sua expectativa quanto ao retorno financeiro do contrato o mantinha empolgado.
Saiu de seu chalé, com o carro que alugara para chegar até Mucuri, com tempo suficiente para chegar às instalações da indústria, seguindo com tranqüilidade e admirando o novo cenário, pois os escritórios do cliente localizavam-se a alguns quilômetros de distância da cidade, em meio a uma imensa área de reflorestamento de eucaliptos que alteravam, radicalmente, a paisagem, conforme ia se aproximando de suas instalações.
A reunião iniciou no horário marcado, sendo apresentado, a Paulo, todo plano e intenções da campanha a ser desenvolvida. Paulo escutou ,com atenção, todos os detalhes que lhe eram expostos e avaliava a sua real condição em assumir tal projeto,que se mostrava ser bem maior do que ele imaginava,com investimentos numa escala na qual ele nunca havia administrado ,a não ser quando de sua estada em uma grande agência de publicidade ,no auge de sua carreira.
Fazia-se certa a necessidade de formar uma equipe de profissionais experientes para dar conta de tamanho projeto, e isto acarretaria em tempo, que já era escasso, e dinheiro, que se Paulo não obtivesse do próprio cliente, como adiantamento, não teria condições de levantar a quantia necessária.
Após horas de conversações e esclarecimentos, interrompeu os trabalhos para o almoço, que foi servido no refeitório da empresa, e posterior visita às instalações da mesma, que mais parecia uma cidade, com agência bancária e até mesmo uma pequena loja de conveniências para atender as necessidades de seus funcionários.
A visita, às diversas áreas de produção e administração, foi feita num carro, da própria empresa, destinado para este fim, pois, de outra forma, se tornaria improdutivo, dada à imensa área das instalações. Paulo permaneceu na empresa por quase todo o dia,conhecendo ,em detalhes, tudo que lhe foi exposto ,para dar-lhe base para criação e desenvolvimento do trabalho.
De volta a pousada, com a cabeça girando em alta rotação, dado volume de informações, e admirado pela imensidão física e de mercado da empresa que lhe foi apresentada, colocou uma roupa mais leve e confortável e saiu ,à pé, até o “Ponto de encontro”para espairecer um pouco e reduzir o ritmo dos pensamentos para, somente ai, poder fazer uma avaliação mais objetiva de suas reais condições ,para assumir tal responsabilidade ,e decidir como captar recursos para implementação e administração de um projeto deste porte.
Laura, por sua vez, havia saído da cama mais tarde e, após tomar seu café e sair para caminhar, tomou um refrescante banho e retornou à sua exploração, das intimidades de Paulo, que se concentravam naquela cômoda, prosseguindo de onde havia parado, a segunda gaveta.
Havia, dentro dela, panfletos de viagens que Laura acreditava serem lugares em que Paulo, um dia, planejara visitar e, por qualquer motivo, não teve oportunidade ou condição de concretizar
seus desejos .Anotações e roteiros que ,se juntos,percorreriam ,praticamente,todo território nacional,boa parte da Europa,que o atraia ,como Amsterdã na Holanda,Itália , as ilhas Gregas , o continente Australiano com sua natureza exótica e recantos ,praticamente,intocados pelos homens que se intitulam civilizados e fotos de alguns dos lugares em que Paulo estivera,porem,sem a presença de pessoas nas imagens.
Laura sabia que Paulo tinha o costume de fotografar os lugares que visitava e, boa parte destas, sem a presença de quem quer que esteja presente, com ele, naquele momento, pois Paulo fazia questão de livrar-se de todo e qualquer registro daquelas que

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passaram por sua vida e ,por razões diversas,não mais se faziam presentes,nem mesmo partilhavam de sua amizade ou consideração.
Paulo acreditava que, mantendo algum registro ou lembrança destas, seria o mesmo que cultivar a dor ou a decepção que o impingiram, assim, consciente de que tais acontecimentos ocorrem a despeito das vontades e sentimentos do momento, registrava, em parte de suas fotos, apenas as imagens que, tinha certeza, no futuro lhe trariam boas e saudosas recordações, isolando-o dos fatos ou pessoas que, porventura, estivessem presentes, e hoje não mais fazem parte de suas lembranças conscientes.
Como um pulmão, ali ficava guardado todas as aspirações de Paulo em busca de seu paraíso externo, lugares onde ele renovava o ar que oxigena seu sangue, como se estes lugares o estimulasse a buscar e encontrar, em seu interior, a paz e o equilíbrio, que nos fazem, não apenas ser felizes, mas sentir e viver esta felicidade plenamente.
Entendia agora, a ânsia, de Paulo, por fazê-la feliz, com atenções e gentilezas que, por vezes, a deixavam angustiada e em alguns momentos oprimida pela pressão que tais atitudes, exageradas e demasiadamente constantes, geravam sobre ela.
Laura passou a crer que a real intenção de Paulo era colaborar com sua busca pela felicidade e, também, participar desta. Atitude nobre de Paulo, mesmo que conduzida inadequadamente, por ele, segundo os padrões e personalidade dela.
Conhecera, com intensidade, mas uma faceta do homem que, a cada momento de sua exploração, a fazia refletir e admirar, revolvendo, em seu interior, a paixão que acreditava estar se esvaindo e que agora, novamente, a envolvia e aquecia.
Laura deixou-se levar pelas emoções e resgates ,que sua investigação trazia,esquecendo-se das horas que havia passado ali, sobre a cama, arrumou todos aqueles papéis e registros, novamente, dentro de sua respectiva gaveta, e tratou de prosseguir com seu dia, que já se fazia findar.
Paulo, após distrair-se com o movimento e agradáveis bate papo, sentado, ao ar livre, naquele recanto de diversão e, literalmente, ponto de encontro dos fins de tarde da cidade, retornou ao chalé e pôs-se a rever suas anotações feitas durante o dia, em sua visita ao complexo industrial de seu, assim esperava, futuro cliente.
Analisando, cuidadosamente, todos os detalhes e possibilidades, a fim de conquistar e corresponder às expectativas, dele e da empresa, passou a considerar que suas atuais limitações o desfavorecia naquela concorrência.
Estando ele empenhado em seu projeto artístico, viabilizado através do patrocínio de Andréa, parecia-lhe mais objetivo e realista, aplicar toda sua energia neste que,mesmo sendo sua primeira mostra,tinha convicção de seu sucesso e que traria-lhe, por conseqüência, reconhecimento e recurso para sustentar-se e prosseguir com a carreira de artista plástico, sonho de criança que, de forma inesperada, estava tomando forma e, em breve, se transformaria em realidade.
Procurando uma solução, profissional e lucrativa para a situação, Paulo teve um estalo de bom senso e objetividade e, entrando em contato com André que, por sorte ou obra divina, ainda encontrava-se no escritório, e apontado para ele onde encontrar uma antiga agenda de contatos, pediu que localizasse nela o número de uma grande agência, para qual ele já havia prestado alguns serviços no passado, e que tinha, certamente, estrutura e profissionais capacitados para apóiá-lo naquela empreitada.


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André, sempre prestativo, localizou e passou-lhe as informações solicitadas e aproveitou para desejar ao amigo, sucesso em seus projetos e negócios que o momento trouxera e que a muito, acreditava ele, o amigo merecia.
Desligando do telefonema, com André, Paulo passou a rever todos seus cálculos iniciais e planejamentos, para execução da campanha, e enxergou um modo de, ao mesmo tempo lucrar com o negócio e conquistar, de imediato, a estrutura necessária para plena execução do mesmo.
Sabedor de que esta agência não havia sido convidada a participar da concorrência, por motivos que ele desconhecia, Paulo resolveu entrar em contato com seus diretores, de criação e comercial, para propor-lhes, de certo modo, uma sociedade neste negócio específico, ficando ele responsável pela coordenação do departamento de criação e, a agência, por sua vez, da execução e desenvolvimento geral da campanha. Para isto ,Paulo solicitaria um percentual do contrato ,quando assinado,viabilizando o negócio ,sem nenhum custo inicial e criando condições para dar continuidade a seu novo projeto artístico.
Planejou cuidadosamente sua abordagem aos responsáveis pela agência e, já tarde da noite, recolheu-se para, no dia seguinte fazer as ligações e colocar em pratica seu plano.
Procurando pegar no sono, passava-lhe pela cabeça o quão valioso era, para ele, as poucas e reais amizades que conquistara ao longo da vida, e principalmente aquelas que permaneciam presentes em seu dia a dia, como André, que sempre estivera presente e nunca questionou ou esperou qualquer retorno ou compensação por isso, e Andréa, fiel, compreensiva e parceira para, literalmente, o que desse e viesse. Havia ainda seus pais que,mesmo não sendo aquele tipo de amizade que se escolhe, lhe eram caros e nunca deixaram de apóia-lo,mesmo naqueles momentos mais difíceis e que o aviam prevenido ,anteriormente,dos erros que estava prestes a cometer,pois sabiam que a vida ensina através, não somente dos acertos e conquistas,mas, principalmente ,dos erros e decepções.Os pensamentos foram ficando,cada vez mais nebulosos ,até que ,finalmente,Paulo adormeceu.
Laura,, por sua vez, mesmo tendo acordado mais tarde do que de costume, mantinha-se acordada e com um sentimento de alivio e prazer, e pensava, deitada em seu lado da cama do casal, na falta que Paulo fazia para ela naquele momento, e para não deixar-se tomar pela saudade, apagou a luz e adormeceu ,quase que instantaneamente,mantendo Paulo no pensamento,esperando estar com ele em seus sonhos.
















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Capitulo. 10


Objetividade



Ir de encontro ao inesperado
Tendo o caminho traçado
Em busca de um ponto determinado









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Laura iniciou seu dia tranqüilo, o que não era muito comum, por seu jeito agitado de se conduzir. Acometida por uma momentânea,porem intensa, saudade de Paulo, pegou no telefone e ligou para ele a fim de ouvir sua voz,conversar um pouco e aliviar seu coração que voltava ,sentia ela,a bater forte por ele,porem foi inútil,pois o telefone de seu chalé não respondia aos toques da telefonista da pousada que,com receio de estar incomodando ,demasiadamente ,seu hospede,caso estivesse descansando,optou por comunicar a Laura que ,provavelmente,ele não se encontrava em seu chalé ,ou ainda não havia despertado, sugerindo que ela voltasse a ligar dali a algum tempo a fim de encontra-lo e que deixaria,na recepção, um recado dizendo que ela havia telefonado e voltaria a procura-lo mais tarde.
Decepcionada por não conseguir satisfazer sua vontade e acalentar seus sentimentos, naquele momento, Laura decidiu aproveitar o belo dia que fazia, lá fora, para nadar um pouco nas piscinas do clube, que Paulo havia se associado, juntamente com Lipe, e colocou-a como sua dependente e esposa, para que ela fizesse companhia a eles, porem, raramente Laura proporcionava esta alegria aos dois, pois nas poucas vezes em que freqüentou o clube, na companhia de Paulo e Lipe, entediava-se rapidamente e acabava por convencer Paulo a ir embora, deixando-o chateado e dividido, pois seu filho adorava curtir as piscinas na companhia do pai, que acabava cedendo, após algum tempo, às vontades dela.
Paulo iniciou seu dia, numa agitação que não era comum, ao seu feitio, tinha muito a ser feito e a ser decidido.
Tendo recebido o recado de Laura, não retornou a ligação, por estar sem disposição para falar com ela, pois sabia que, provavelmente, teria que detalhar sobre seus planos e não estava com disposição para isso, estava empenhado em dar início a seus trabalhos, assim aguardaria, como dizia o recado, que Laura voltasse telefonar. Entrou em contato com a agência de publicidade e ,após expor todos os fatos referentes ao negócio em questão,não teve dificuldades em despertar o interesse de seus diretores,que solicitaram a ele,após quase duas horas de conversações sobre detalhes da campanha a ser produzida, que transmitisse,via fax, todo material e anotações inerentes ao cliente,para que sua equipe analisasse o material e formalizasse uma proposta comercial e financeira para ser apresentada ,por Paulo, ao cliente.Em contrapartida, enviariam à Paulo, através do fax da pousada,minuta de contrato referente sua participação no negócio , formalizando seu percentual de ganho no mesmo.
Satisfeito com o rápido e decisivo resultado de seu contato, Paulo enviou de imediato o material solicitado e retornou a varanda de seu chalé, onde já havia deixado uma nova tela para ser trabalhada.
Aquele era um dia em que Paulo sentia-se inspirado e seguro de si, pois, realmente, tudo corria exatamente como ele planejara. Trabalhou intensamente,aquele dia,sua mão parecia ter vida própria,conduzida com precisão ,por uma força que sugava dele a técnica e criava com independência.O que Paulo via surgir naquela tela o empolgava ,e o fez prosseguir até o esgotamento.Passou horas ali,pintando ,como se estivesse incorporado ,sentindo ser muitos nele mesmo,um estado de espírito ,intenso ,que ele desconhecia,pois nunca havia sentido experiência semelhante.
Cansado, porem satisfeito com o rendimento de sua arte, Paulo resolveu descansar, comer algo e, nesse tempo, pensou em falar com Andréa sobre os acontecimentos, e andamento da proposta de contrato, que originou a ida dele até aquele belo recanto, dividindo com ela sua empolgação com o rendimento e qualidade de sua arte que, até aquele momento, estava sendo patrocinada por ela.
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Achou por bem não comprometer-se, de imediato, com a devolução dos recursos cedidos pela amiga, com base nos valores que receberia por sua participação no contrato, porem, tinha como certo reembolsa-la, assim que recebesse sua parcela do negócio, que seria, certamente, substancial e o manteria bem por tempo necessário para que concretizasse seu projeto que o impulsionaria em sua nova carreira.
Andréa, alegre por ouvir seu amigo, recebeu com entusiasmo as novidades e, ao mesmo tempo, deixou transparecer uma leve, porem marcante, mudança em seu astral, e Paulo, perspicaz e curioso, percebeu a agradável alteração de energia da amiga e, sem rodeios, foi logo a interpelando quanto à razão daquela contagiante felicidade.
Andréa estava apaixonada. Mulher ativa e extremamente cativante,não havia ,ainda,encontrado o “amor de sua vida” mais,segundo ela,acreditava,agora, estar diante dele.
Conheceu-o numa festa, relacionada aos negócios de sua empresa, apresentado por um de seus colaboradores, chamava-se Arthur Tavolla e não tinha ligação com o processo de trabalho da empresa de Andréa e nem mesmo com os negócios, daqueles ali presentes, o que a deixou ainda mais a vontade, passando, quase que toda festa, conversando com ele e buscando saber o máximo possível a seu respeito.
Paulo ouvia atentamente, feliz com as boas energias que envolviam a amiga, deixou-a colocar para fora toda a magia e euforia represada, pois não recordava de tê-la visto tão empolgada por qualquer outro dos namorados que passaram por sua vida, pelo menos daqueles que Paulo tivera oportunidade de conhecer.
Após longa e agradável conversa, despediram-se, ambos felizes, conscientes de que quando se sonha e trabalha-se a positividade, as coisas acontecem, e como num conto de fadas, atraem pessoas e conquistas maravilhosas.
Arthur era um homem maduro, atraente, bem sucedido profissionalmente, seguro de si e com situação financeira estável, divorciado há alguns anos, sem filhos e em busca de uma vida conjugal equilibrada e duradoura, características ideais, dentro das expectativas de Andréa que, mesmo conhecendo-o há poucos dias, estava decidida a investir toda sua energia para que este relacionamento ,que se iniciava,tivesse continuidade e ,quem sabe, se transformasse em um grande amor.
Laura, de volta ao apartamento, após descarregar sua energia represada, nas piscinas do clube, sentia-se frustrada por Paulo, até aquele momento, não ter se preocupado em retornar sua ligação. Mantendo-se calma, convenceu-se de que,certamente, ele não havia recebido seu recado pois, acreditava ela, estas pequenas pousadas não mantém a rígida e profissional organização e nem o padrão de atendimento de um hotel,assim ,certamente, aquele recado havia se perdido em meio aos papéis e afazeres dos atendentes.Pensou em ligar novamente mas logo mudou de idéia,pois não queria deixar transparecer sua ansiedade e nem a falta que Paulo estava fazendo naqueles últimos dias.
Seguiu para o quarto e pôs sobre a cama a terceira gaveta da cômoda, que, aos seus olhos, mais parecia uma lixeira, visto a completa desordem de papéis e cartões de visita que se emaranhavam como palha num ninho. Laura sabia que ali,naquela gaveta,Paulo jogava papéis que retirava de sua carteira e ,algumas vezes, até mesmo de outras gavetas da cômoda, viu que era para ali que ele encaminhava, ou mantinha tudo que lhe era “indesejável”,mas que não queria descartar definitivamente,por motivos que ela desconhecia.
Imaginou que Paulo mantinha ali aquelas anotações e lembranças, para digeri-las e então dirigi-las a outra gaveta ou descarta-las de vez, reconheceu aquela gaveta como suas
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entranhas,estomago , intestinos,era a maneira de Laura identificar as muitas faces e partes de Paulo,visto por ela como um todo naquele móvel.
De imediato, Laura passou a procurar, naquela gaveta, algo que pudesse dizer respeito a ela, porem, não encontrou nada ligado a sua pessoa, relaxou e passou a organizar tudo aquilo para que tivesse condições de explorar ou estudar melhor aquela parte de Paulo, como era visto por ela.
Laura sentiu que Paulo, antes de conhecê-la, tinha uma vida social muito agitada, pois encontrou ali muitos convites para festas, de pessoas que ela nunca ouvira falar, cartões de visita e pessoais de mulheres e homens das mais diversas áreas profissionais, pessoas que acreditava terem sido apresentadas a ele nessas festas ou eventos que ele freqüentava, uma ou outra carta que, ao lê-las, ficava claro o interesse, daquelas que as escreveram, por Paulo, e alguns bilhetes antigos, escritos por sua ex-esposa, coisa que a deixou desconcertada, pois nunca havia visto ou encontrado,naquela casa,absolutamente nada,nem mesmo uma só fotografia, que lembrasse ou fosse ,claramente, ligado a Carla,mãe de Lipe.
Laura sabia do destino de muitos daqueles objetos, e entendeu o quão difícil e, talvez, doloroso era para Paulo desligar-se de partes de sua vida, mesmo aquelas que lhe causaram dor ou desilusão.
Enxergou o quanto Paulo se esforçou, e continuava se esforçando, com a mudança de seus hábitos, reduzindo sua vida social e presença em festas ao estritamente necessário, em prol de seu relacionamento com ela, isso traduzia a medida dos sentimentos e respeito que Paulo tinha por ela, pois, sabia que Laura não tinha grande disposição para eventos e festas sociais, pois deixou claro isto, logo que se conheceram.
Mais uma vez Laura viu-se abismada com sua falta de sensibilidade e perspicácia em avaliar e conhecer aquele homem, e sentiu-se lisonjeada pela atenção e cavalheirismo, não pronunciado, de Paulo que, mesmo calado, prestava-lhe homenagem e respeito abrindo mão de seus prazeres.
Tomou-se por um sentimento de angústia e respeito, pensou em ligar para ele naquele mesmo momento, mas, verificando sua fragilidade naquele instante, conteve-se.
Recolheu toda aquela papelada, retornou-as a gaveta que foi posta junto às outras, no canto do quarto.
















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Capitulo. 11

Decisões


Ato de pontuar uma frase da vida.
Iniciar um novo parágrafo...










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Paulo recebeu o pré-contrato, juntamente com a apresentação da proposta financeira inicial que deveria ser encaminhada ao cliente, em seguida atendeu uma ligação da agência que solicitava a presença dele em suas instalações em São Paulo, para darem início ao processo de criação e desenvolvimento da campanha que, deveria ser apresentado ao cliente o mais breve possível, pois esta era à base de todo trabalho e, se aprovada pelo cliente, acarretaria no fechamento de contrato e administração de uma conta milionária.
Marcou para dali a dois dias seu retorno à São Paulo para produzir a apresentação da campanha,com a equipe de criação da agência,sobre sua coordenação,pretendendo ficar por lá, não mais que duas semana ,retornando a Mucuri com todo material para apresentar ao seu cliente e, posteriormente, dar prosseguimento ao seu projeto artístico.
Laura, sabendo do retorno, mesmo que temporário, de Paulo, sentiu-se aliviada, pois a distância entre eles a havia deixado com um sentimento de abandono e, por vezes, solidão.
Foi até o quarto e retirou a penúltima gaveta da cômoda, onde encontrou duas pastas, não havia papeis ou qualquer outra coisa solta naquela gaveta.
Novamente despertada, sua curiosidade, abriu uma das pastas que continha, em seu interior, muitas anotações, cartas, poesias rebeldes, pensamentos, palavras escritas desordenadamente em uma folha de papel. Laura notou que os papéis estavam cronologicamente organizados,então começou a lê-los do fim para o início,buscando entender o conteúdo de tudo aquilo ,bem como os motivos e épocas que levaram Paulo a escreve-los e guarda-los.
Palavras de desejos e insinuações sexuais faziam parte de muitos dos textos de Paulo, outros mostravam certa raiva, desprezo e atitude, como em algumas das poesias, onde Laura admirou-se ao ver Paulo utilizar palavras pesadas e palavrões com tanta naturalidade, pois ele não os empregava com freqüência, a não ser em piadas ou quando se via extremamente irritado ou nervoso. Passou a ler alguns destes em voz alta,pois gostava de ouvir as palavras que lia para melhor compreende-las e sentir a força com que eram empregadas, e os sentimentos que o acometiam no momento em que foram transferidos para o papel.Rotulou aquela gaveta,em seus pensamentos,como a dos impulsos sexuais.
Um primeiro poema, lido por ela, chamava-se “Otário”, sentiu a revolta posta naquelas linhas e certa descrença nas pessoas, mas uma convicção na vida e confiança em acertar e viver intensamente os momentos que nos são permitidos nesse mundo, sem distinções de raça, credo, cor ou posição social, ao mesmo tempo em que exprimia, com radicalismo, sua posição quanto a estes conceitos:

OTÁRIO!!!

Seja puta
Seja pobre
Seja bicha ou seja santo
Nunca perca o encanto
Encare a vida, viva a sorte de estar vivo
Não se iluda, a sorte muda e te leva
E a merda gruda!

Goste você ou não
Palhaço com as bolas na mão
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Não viva pra sobreviver
Aprenda o que é prazer
Ou morra sem saber viver!

Racional é aquele animal
Que se considera imortal e o tal
Perdido na luz da razão
Com o que chama de calças, na mão
Cadê o tesão!

OTÁRIO!!!
Seu rosto é o do espelho
OTÁRIO!!!
Só beber tudo sem gelo
OTÁRIO!!!
Nome escrito no banheiro
OTÁRIO!!!
Com o seu nariz vermelho
OTÁRIO!!!
Otário de corpo inteiro
OTÁRIO!!!

Laura desconhecia esse lado “poeta” de Paulo, porem viu-se atraída por seus textos que conquistaram seu respeito e admiração, o que as telas não conseguiam fazer, as palavras estavam fazendo, com êxito. Passou a ler um outro texto de Paulo intitulado “Vagabunda”, mesmo achando, o titulo, um tanto forte e desagradável, verificou ser uma clara e intensa defesa aos direitos e liberdade das mulheres que, pondo fim a seus relacionamentos, por qual motivo fosse, viam-se ofendidas e mal faladas por aqueles que, em outros tempos, as elogiavam e as cobriam de carinhos e promessas e, de certa forma ,da voz a estas.
Este lado de Paulo Laura conhecia bem, pois uma das razões de ter se apaixonado por ele, fora justamente por compreender e enxergar nele, um homem de caráter, bons princípios, mas, principalmente respeitador e defensor da igualdade de direitos de todos e de todas, e o fazia com educação, bom senso e cavalheirismo, o que para Laura era admirável.

VAGABUNDA!!!

Mulher traída, ferida
Que vai a luta, que briga
Independente, cheia de vida, vida decente

VAGABUNDA É A MÃE!!!

Amor ferido, bandido
De peito aberto, faz certo, busca o sustento
Entregue a sorte, ameaçada, até de morte

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VAGABUNDA É A MÃE!!!

Abandonada, marcada a fogo
Etiquetada de vagabunda, mulher do povo
Por quem um dia, só prometeu

VAGABUNDA É A MÃE!!!

De cafajestes, o céu ta cheio
Fidelidade é palavrão só nesse meio
Machistas curtos, de moral nula
Mostram a cara, lavada, na cara dura

VAGABUNDA É A MÃE!!!

Do homem fraco, se espera e se mostra vil
Sou vagabunda como aquela que te pariu
Melhor ser surda, que escutar
Incompetentes sem culhão pra apresentar

VAGABUNDA É A MÃE!!!

O terceiro texto lido por Laura, chamado “Casca de ferida”, mostrava sua indignação por aqueles cujo ego supera a própria existência e, por não conseguirem viver em paz e felizes, buscam a satisfação física, como válvula de escape, fazendo com que sua ignorância os torne inconvenientes, de personalidade duvidosa, menosprezando e incomodando a todos em sua volta e principalmente às suas parceiras que,não enxergando esta face de seu “companheiro” ,e estando muito envolvidas ,em algum momento, acabam prejudicadas por eles.

CASCA DE FERIDA!!!

Covarde corajoso, mais gostoso que o gozo
O teu mundo te pertence, causador da dor de dente
Se enxerga alem da vida, puta casca de ferida
Horizonte limitado, VIADO!!!

A quem queira, tem quem gosta, SEU BOSTA!!!
Você é o centro do mundo, profundo
Pro fundo de um poço cheio, de preconceito e receio
Leve assim a sua vida
PUTA CASCA DE FERIDA!!!

Não precisa de ninguém, que cara
Não viaja sem a mala, vestido
Dentro dela o pouco dele, vivido
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UM BABACA PERVERTIDO!!!
Vê com o olho atrás do umbigo

Cospe na própria comida
PUTA CASCA DE FERIDA!!!
Tem o rei dentro da barriga
PUTA CASCA DE FERIDA!!!
Morra e fique bem com a vida
CASCA DE FERIDA!!!

O texto, ”Chifrudo”, a impressionou, por Paulo ter descrito o homem traído como motivador dos atos da mulher, não justificando a dita “traição”, mas mostrando certo “Espírito de porco” que acometem estes homens machistas que acreditam serem donos, proprietários, os senhores daquelas que, ao lado deles, buscam e tem os mesmos direitos, e descobrem que estes nunca as satisfarão, pois, na verdade, eles mesmos estão dominados pela ignorância e preconceitos.
A presença do espírito defensor do direito da mulher de, “ser mulher” e, acima de tudo, “ser humana” ,que Paulo tinha,ficava claro e presente nos textos que mais a impressionaram e agradaram, Laura sempre se sentia protegida e respeitada ao lado dele, este era um fato que ela não podia negar, e realmente nunca o fez.

CHIFRUDO!!!

Chifre dum boi, na cabeça dum burro
CHIFRUDO!!!
Canalha indeciso, encima do muro
CHIFRUDO!!!
Homem das putas, sem nenhum futuro
CHIFRUDO!!!
Coisa ruim, vive a vida no escuro
CHIFRUDO!!!
Cego no passado, presente e futuro
CHIFRUDO!!!
Macho e valente ,encostado no muro
CHIFRUDO!!!
Ta na cabeça e carrega com orgulho
CHIFRUDO!!!
Paga dobrado, e agradece por tudo
CHIFRUDO!!!
Berrante na testa, tocando pra um surdo
CHIFRUDO!!!
Cego dos olhos, palhaço pro mundo
CHIFRUDO!!!
Cara safado, coisa de vagabundo


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CHIFRUDO!!!
Como se não bastasse, fodido, no fundo
CHIFRUDO!!!

Intitulado “QI”, Laura interpretou este texto como uma brincadeira com a Língua Portuguesa e com seus símbolos, porem, transmitindo uma importante mensagem a todos aqueles que se consideram superiores em gênero, número e grau de inteligência, esquecendo-se do primordial, vivemos em sociedade e, sem aqueles que nos cercam ou sem ter quem nos cerque, nada somos, senão animais inúteis e mal sucedidos, destinados à extinção, e não se deve ver isto como “Quociente de Inteligência”, mas talvez, como uma “Questão de Interpretação”.

“QI”

“QI”m esta ai
“QI”m é você
“QI” sta deixando a vida passar
Achando “QI” sto é viver
“QI” stranho ver o que acontece
Como “QI”m se vê como preza
Por que “QI” ra
Ou por fra”QI”za
Não deve se “QI” xar da natureza
Foi o destino “QI” scolheu
“QI” ra ou não
foi você “QI”m, se fodeu

“Q”uanta “I”nsegurança

Havia, em todas aquelas “poesias”, algo que a fazia enxergar, em Paulo, a consciência que ele tinha da vida e de suas armadilhas e surpresas, o que o fazia, de certa forma, estar precavido e mais preparado para enfrentar estas situações e percalços, durante seu caminho em busca da felicidade.
Laura abriu a outra pasta e dentro encontrou o que parecia ser lembranças do tempo de juventude, aparadores de copos personalizados, com nomes de casas noturnas, caixas de fósforo, cartões, também de casas noturnas e até mesmo um ou outro souvenir de motéis, coisas que Laura não esperava ver, pela imagem que fazia de Paulo, desde que o conhecera. Porem,parou para pensar e entendeu que ele também havia tido uma vida anterior ao seu encontro com ela,que havia passado pela infância,pela adolescência ,pela juventude ,a fase adulta e amadureceu,até onde é possível se dizer que isso ocorre com alguém sem que o considere velho e desprovido de sonhos e de vida.
Paulo nunca havia feito algo para, conscientemente, magoa-la, ou se permitido ver Laura chorando, pois não suportava ver uma mulher sangrando pelos olhos, porem, distante fisicamente dela, mesmo que presente em alma e lembranças, deixou-a em prantos, pela saudade e comoção, Laura esperava não ser tarde para resgatar o amor que aquele homem

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despejou sobre ela, e que ela não soube acolher,fazendo com que ,aos poucos,fosse escorrendo e se perdendo.
Laura refez-se, guardou as pastas em sua respectiva gaveta, e a pôs com as outras, arrumou-se e saiu para espairecer e tomar um pouco de ar.
Paulo estava seguro de seus sentimentos e objetivos, conversaria com Laura, ao retornar, deixando-a a vontade em seu apartamento, visto que sua permanência em São Paulo seria breve, pois, em poucos dias retornaria ao Estado da Bahia, porem deixaria claro que ambos não teriam
mais condições de viverem juntos e pediria ,a Laura, para procurar um lugar para se instalar ,mas que ficasse a vontade para levar o que necessitasse do apartamento,e que iria colaborar no que fosse possível,inclusive financeiramente,para que ela ficasse bem acomodada e feliz.
Sabia que seriam momentos difíceis, até mesmo para ele, pois tiveram bons momentos juntos e isto não se apaga de um dia para o outro, mas sabia que era o melhor a ser feito. Acreditava, inclusive, que seria ,para ele, mais doloroso do que para Laura,pois ela já se manifestava rebelde e distante ,e mesmo estando longe de casa a tantos dias ,não sentiu que estivesse faltando na relação,pois ela quase não o havia procurado ,mesmo que para saber como estava,durante seu período de viagem.
Paulo dirigiu-se a varanda e passou o restante do dia entretido em seus quadros, isto o fazia quase que deixar o corpo, libertando a alma para viajar no mundo das cores, texturas, imagens, sentidos, em fim, sua arte.
Em seu ultimo dia, dedicou-se exclusivamente às suas pinturas, dispensando o mar, a praia, buscando dentro dele toda inspiração necessária para traduzir seus sentimentos em suas telas.
Laura acordou ansiosa, pois Paulo retornaria no dia seguinte, e ela iria recepcioná-lo no aeroporto, portanto, queria deixar tudo na mais perfeita ordem para que tivesse o dia livre e preparar-se para recebê-lo, como ir ao cabeleireiro, em fim, produzir-se, no intuito de impressioná-lo com sua bela figura. Teria o dia todo para isso pois Paulo chegaria por volta das cinco horas da tarde.
Providenciou uma limpeza superficial na casa, que estava impecável, pôs as gavetas de volta na cômoda, mantendo todos os aposentos do apartamento devidamente organizados, e tirou à tarde para ir ao cinema, relaxar e distrair-se, pois, a ansiedade por vê-lo era imensa.
















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Capitulo. 12

Conquistas

Chegar ao clímax
Recomeçar a busca.







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Paulo acordou, pronto para viajar, fez os acertos referente à sua estadia na pousada e providenciou para que seu chalé estivesse livre , quando retornasse ,dali a uma semana,pôs sua bagagem no carro,juntamente com suas telas e apetrechos ,e pegou a estrada.
O sol acabara de nascer quando Paulo entrou na interestadual, pretendia estar em Vitória, no Espírito Santo, por volta do meio dia, assim teria tempo para descansar, comer algo e seguir viagem em seu vôo que sairia por volta das três horas da tarde, chegando a São Paulo as cinco, no aeroporto de congonhas, de fácil acesso para Laura apanha-lo.
Quando comunicou a Laura de seu retorno, num breve telefonema, insistiu para que não fosse buscá-lo, pois sendo o aeroporto perto de seu bairro, porem um tanto complicado para estacionar carros, para embarques e desembarques, achava mais prático pegar um táxi e seguir direto para casa, não criando incomodo a ninguém,mas Laura insistiu, e Paulo ,sentindo sua euforia,não quis contraria-la e aceitou a gentileza.
Laura iniciou seu dia, disposta a reconquistar Paulo, que chegaria ao final da tarde, porem, cedeu alguns minutos de seu dia para abrir a ultima e grande gaveta da cômoda e verificar seu conteúdo. Encontrou uma seleção de trabalhos publicitários,que vinham desde seu tempo de universidade ,até outros mais recentes que ,por sinal, Laura já conhecia e havia gostado muito e, acreditava que, por este motivo Paulo os tinha escolhido para fazer parte de suas lembranças.Intitulou-a como a gaveta das pernas,do trabalho que o fazia caminhar na vida.Retornou o material em seu lugar e,enquanto se aprontava para sair,refletiu sobre tudo que havia visto e conhecido de Paulo, através daquele móvel ,e notou que não havia encontrado nada que dissesse respeito a ela ,em nenhuma das cinco gavetas,nem mesmo naquela que ela considerou com a gaveta do refugo .Onde estaria ela então? Paulo não a colocou em suas lembranças, por fazer ela parte integrante de sua vida ou por não tê-la, ainda, como alguém que realmente fez ,faz ou fará diferença para ele? Se Paulo trazia sua vida, a reboque, naquela cômoda, porque ela ainda não se fazia presente?
Parou por ai, em seu questionamento, pois tais pensamentos a estavam deprimindo e acabando com seu bom astral, e Laura queria mostrar-se disposta, feliz e maravilhosa quando o encontrasse, no aeroporto. Vestiu algo leve,pois o dia estava quente , e saiu para iniciar sua maratona de prazeres, com tratamentos de beleza e relaxamentos,sem poupar despesas nesse momento,pois pretendia faze-lo perfeito.
Andréa, sabendo do retorno do amigo, e mergulhada na recente paixão por Arthur, comentou com o namorado sobre o projeto de Paulo e de seu apoio para que o mesmo pudesse ser concretizado, não apenas pela amizade, mas pelo respeito e admiração que tinha pelo trabalho e por acreditar no talento e qualidade de suas obras. Comentou ainda que, gostaria de conseguir um local adequado e ,se possível, badalado para agendar uma data para que ,assim que Paulo concluísse suas obras, não tivesse que se preocupar com este lado administrativo pois,sendo o local ou galeria ,apropriada e especializada neste tipo de evento ,tomariam todas as providências necessárias para o sucesso do evento,e seria um presente dela ao amigo que, Andréa tinha certeza,ficaria imensamente satisfeito e grato.
Arthur, mesmo não conhecendo Paulo e nem seu trabalho, mas confiante na opinião e bom gosto de Andréa, se dispôs a ajudá-la, pois tinha alguns amigos, apreciadores de arte e com contatos, que poderiam indicar alguns endereços, assim, bastava que fossem conhecê-los e então optar pelo mais adequado e que mais agradasse a Andréa.


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Paulo, ainda em vôo, pensava em chegar e falar com Lipe, pois, após tantos dias distantes, sentia saudades de seu filho que, alem de ser um adorável garoto, gostava de estar a par das conquistas do pai e era um fã de todos os seus trabalhos, apreciava arte, trabalhava em seus
desenhos, quando junto ao pai,sendo guiado por ele em seus primeiros passos como artista.
Laura chegou ao portão de desembarque com meia hora de antecedência, estava estonteante, vestida com discrição, mas com extremo bom gosto e sensualidade.
Paulo, ao sair pelo portão de desembarque, foi tomado por um calor que lhe trouxe de volta aquela ardente paixão e entrega ao ver Laura, maravilhosa como a muito não a via ,não podia negar que seus sentimentos por ela ainda o paralisavam,respirou fundo, procurou disfarçar a emoção e foi ao encontro dela, que o recebeu com um caloroso abraço e um longo e apaixonado beijo, fazendo com que Paulo perdesse as forças, entregando-se a aquele momento intenso, mesmo tendo em sua consciência, decisão formada quanto ao futuro daquela relação.
Apesar de cansado, Paulo convidou-a para jantar fora, antes de seguirem para o apartamento, queria desfilar com aquela linda mulher, ao seu lado, e ao mesmo tempo, proporcionar a Laura uma noite agradável, um agrado, um carinho, em retribuição à calorosa, maravilhosa e inesperada recepção que ela lhe proporcionara.
Foi uma noite inesquecível, Paulo esqueceu o cansaço, retornaram ao apartamento e provocado por caricias e seduções, rendeu-se aos seus sentimentos e amaram-se intensa e apaixonadamente.
No dia seguinte, Paulo levantou cedo, sentia-se sereno e em paz com o mundo, sem a menor vontade de deixar Laura sozinha, porem tinha um dia cheio pela frente, deu-lhe um beijo de despedida, um carinho em seus lindos cabelos e saiu, direto para seu atelier, pois passaria a manhã com André, atualizando-se dos acontecimentos e colocando-o a par das novidades.
André demonstrou satisfação com o retorno do amigo, cumprimentaram-se e foram direto aos negócios. Após ouvir com atenção as boas novas, André surpreendeu-se com a euforia de Paulo e com a proposta,feita por ele,para que se associassem na administração e aplicação dos ganhos relativos à conta da indústria de Mucuri ,junto a agência de publicidade,pois Paulo,ao retornar para concretizar o negócio,estenderia ,novamente, sua estada para dar continuidade ao seus trabalhos artísticos.Mesmo ,André, não tendo noção alguma do mercado publicitário aceitou a oferta de Paulo pois, a parte que caberia a ele seria, essencialmente, administrativa financeira ,o que ,por ser extremamente organizado e correto ,era pessoa ideal e merecedor da confiança de Paulo que também o recompensaria pelos custos que arcou ,referentes ao atelier,durante tempos.
André agradeceu a confiança e o reconhecimento do amigo, sabia que tal administração não tomaria muito de seu tempo, mantendo seus negócios e afazeres praticamente em seu ritmo normal.
Tendo marcado sua primeira reunião, com a agência, por volta das duas horas da tarde, Paulo e André foram almoçar juntos, coisa que não faziam há anos, para, logo após, seguir direto ao seu compromisso.
Laura passou o dia em casa, satisfeita com, o que ela acreditava ser, o reatamento com Paulo e ,nos dias que se seguiram,manteve-se sempre carinhosa, produzida e perfumada para ele.
O dia de seu retorno a Mucuri estava próximo e Paulo decidiu conversar, definitivamente, com Laura, sobre a relação entre eles. A campanha estava pronta para ser apresentada e ele havia marcado um almoço com Andréa para que tivessem oportunidade de conversar com ela antes de

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seu retorno.Encontraram-se no restaurante ,conversaram ,em detalhes, sobre as conquistas e planos de ambos.
Andréa estava apaixonada e empolgada com sua promissora relação com Arthur e entusiasmada com o rumo que tomou a vida profissional do amigo, e aproveitou para expor a ele, sua intenção quanto à busca do local ideal para uma exposição.
Paulo, sensibilizado com a atitude e confiança depositada nele, pela amiga, mostrou-se grato e aceitou a colaboração, porem, deixou claro que, tanto o investimento inicial, feito por Andréa, como os custos inerentes à exposição seriam arcados por ele, tão logo concretizasse o negócio com seu cliente, o que ele considerava liquido e certo, mediante a estrutura que havia formado em sua retaguarda, com a participação da agência.
Paulo procurou, naqueles dias, não corresponder, com intensidade, às abordagens de Laura, que passou a sentir-se insegura e preocupada com seu comportamento. Como ele havia marcado sua viagem num vôo noturno,pois assim poderia estar de volta a Mucuri ainda no período da manhã, do dia seguinte,sentou-se ,com ela, pouco antes de sua saída, e expôs sua decisão,bem como seus motivos e,mesmo deixando claro que seria definitivo,mostrou-se sincero quanto ao seu carinho por ela ,e colocou a disposição de Laura,como havia planejado, o que fosse necessário,tanto da casa como de sua pessoa ,no tocante a dinheiro e amizade ,e que ficasse a vontade para continuar no apartamento até que,com calma,encontrasse um lugar que a agradasse pois, estando ele em viagem ,não causaria constrangimentos,momentos tão difíceis que pareceram-lhe eternos, deixou-a,ainda aos prantos, e sem conseguir compreender ,ou aceitar ,os motivos expostos.
Paulo tinha consciência de que isto aconteceria, nada mais poderia fazer naquele momento, senão deixa-la refletir e seguir seu caminho ,pois deveria estar no aeroporto dali a alguns minutos para providenciar seu embarque.
Apesar de cansativa, Paulo fez uma agradável viagem, tanto aérea como terrestre, livre do calor escaldante do sol, chegou ao destino como planejara, logo ao amanhecer.
Procurou marcar uma reunião, com o cliente, ainda para aquela tarde,e conseguiu,acomodou-se em seu chalé, que já estava preparado para recebê-lo, pois seu retorno havia sido reservado junto à pousada, e procurou dormir um pouco, para estar bem disposto à tarde, para a reunião.
Laura não havia pregado os olhos, já inchados de tanto chorar, durante toda noite, inconformada e perdida em seus sentimentos e perspectivas de vida, pois não conseguia assimilar ou aceitar o fato de estar sendo deixada. Pensava no impacto da recepção que havia feito para Paulo no aeroporto e de sua reação e emoção demonstrada.Como poderia ele separar-se da mulher por quem demonstrara tamanha paixão,à poucos dias atrás? O que poderia ela ter feito para que tomasse esta atitude radical e, na mente de Laura, insensata?Laura passou o dia na cama, não se levantou, nem mesmo para comer.
Paulo, já ao cair da noite, deixava, eufórico, o escritório de seu cliente, sem nem mesmo saber o como agir ou pensar, sua intuição se confirmara, contrato na mão, e uma nova e desafiadora vida pela frente, agora era só organizar suas prioridades, para o dia seguinte como, transmitir as boas novas a agência, para que dessem prosseguimento aos trabalhos previamente direcionados por ele, a André, agora seu sócio colaborador, e a Andréa que havia pedido a ele para informá-la do resultado,seja ele qual fosse, para que pudesse prosseguir com a organização da exposição, e só então relaxaria e prosseguiria com seu projeto pessoal,sua arte. Dormiu profundamente, como nunca antes, quando uma estranha e intensa sensação o acometeu.

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Capitulo. 13



Estabilidade


Porção de poucos
Postos acima de outros
Mantendo-se próximo a todos
Construindo de dentro pra fora
Seu mundo, seu tesouro





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Como se seu dia inicia-se agitado, grandes notícias, muitos cumprimentos e muito trabalho pela frente, havia momentos em que pensava em Laura, e em como estaria reagindo aos acontecimentos, mas sabia que procura-la seria um erro, então buscou ocupar, ao máximo, sua cabeça com os negócios, o que foi fácil, pois trabalho não lhe faltava e, naquele momento, isto era, para ele, uma benção. Neste mesmo dia,Laura procurou falar-lhe,mas suas ligações não podiam ser completadas pois, Paulo manteve o telefone ocupado por horas,afim de deixar todos os assuntos atualizados e encaminhados ,e os interessados cientes de seus afazeres e responsabilidades.Quanto a seus clientes fiéis e corriqueiros,teve o cuidado de visitar a todos,durante seu retorno à São Paulo,e deixou bem dirigidas suas divulgações e pequenas campanhas,portanto, estava tranqüilo quanto a satisfação e manutenção destes.
Já no final do dia,quando Paulo dedicava-se às suas pinturas,inspirado com os últimos acontecimentos, toca o telefone, era Laura, quase que desesperada com a situação em que se via. Paulo procurou conversar calmamente com ela,demonstrando equilíbrio e procurando ser solidário à seus sentimentos.Após mais de uma hora de conversa e declarações de amor,por parte de Laura,Paulo resolve ceder em sua decisão e aceita repensar o assunto ,com a promessa de voltarem a conversar quando retornasse.
Apesar da decisão, de repensar sobre suas vidas juntos, Paulo pediu a ela que utilizasse destes dias para procurar, de qualquer forma, um novo apartamento, mas confortável que aquele que os abrigava, pois, seja qual fosse o desfecho da relação, ele gostaria de se mudar para um lugar mais amplo, talvez até com um ambiente espaçoso e bem iluminado para que montasse seu atelier, coisa que sempre teve vontade de fazer, poder trabalhar em casa num ambiente só seu e bem estruturado.
Após desligar do extenso telefonema, Paulo não mais retornou a sua pintura, havia ficado tenso e sentiu-se fraco diante da insistência, entre lágrimas, de Laura, porem sentiu que fizera o certo, pois esta trégua faria com que ela saísse da depressão e desespero em que entrara e refletisse melhor sobre o assunto, ficando, acreditava ele, mais fácil para ela aceitar o fim da relação, se realmente fosse este o caso.
Laura, como quem tirasse um enorme peso da alma, respirou aliviada, mesmo sabendo que nada estava realmente decidido, acreditava que, com um pouco mais de tempo, poderia rever suas atitudes e reconquistar a confiança e o amor de Paulo. Não queria ,de forma alguma,aceitar ou cogitar na possibilidade de separar-se ,definitivamente, dele.
No dia seguinte, Laura acordou cedo, tomou seu café e desceu, até a banca de jornais que ficava a dois quarteirões do prédio, a fim de comprar jornais e, em seguida, retornou ao apartamento e deu início, empolgada, a busca de um novo apartamento para alugar, como Paulo havia pedido.
Logo após o almoço, ela iniciou os contatos com corretores e proprietários, para informar-se de detalhes dos imóveis que mais interessaram a ela e, nos casos que correspondiam a suas expectativas, marcaram visitas para o dia seguinte, no intuito de vistoriar os mesmos e avaliar o estado de conservação destes, definindo assim, aqueles que visitariam com Paulo, sempre confiantes de que estariam juntos e, sendo felizes no novo lar.
O dia foi longo e cansativo, pois, a rotina de fazer sempre as mesmas perguntas e questionamentos às pessoas diferentes, para que tivesse condição de formar sua lista de visitas, o mais seletiva possível, tomou-lhe quase que todo o dia.
Ao cair da tarde, cansada, porem ansiosa, Laura decidiu fazer uma visita à Andréa, ligou antes para saber se poderia recebê-la, arrumou-se e saiu em seguida a fim de chegar cedo à casa da amiga e aproveitar, ao máximo, a companhia desta, pois, naquele momento, sentia-se carente e
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precisava conversar , desabafar com alguém,e ninguém melhor que Andréa,que alem de boa ouvinte ,era agradável ,inteligente e sempre tinha palavras de conforto e esperança seja qual fosse as situação ou percalço que colocassem à sua frente.
Como Andréa não tinha compromisso algum para aquela noite e não encontraria com Arthur, pois ele costumava jogar tênis com amigos, duas vezes por semana, e esta era uma dessas noites, aceitou receber Laura, pois notara sua angustia e ,sabendo da decisão de Paulo ,que lhe confidenciou ,no almoço que tiveram às vésperas de seu retorno à Bahia,a decisão de separar-se de Laura,e acreditou ser este o motivo da visita e, não negaria a Laura a oportunidade de extravasar seus sentimentos e, talvez ,pudesse faze-la pensar e aceitar melhor essa ocorrência em sua vida,ponderou ela.
Laura chegou, foi recebida com um carinhoso abraço por Andréa, sentaram-se e deram início a um gostoso papo. Conversaram por algum tempo sobre futilidades e assuntos superficiais,porem, Andréa notava a relutância da amiga em tocar no assunto de seu relacionamento, deixou-a a vontade e aguardou ,pacientemente, que Laura se sentisse segura ,e perguntou a ela como andava Paulo,em sua empreitada na Bahia ,mesmo estando a par das novidades.Sua intenção era despertar em Laura a vontade e força para colocar para fora o real motivo daquela visita,expor seus sentimentos e temores.A resposta de Laura foi imediata,pôs-se a falar desenfreadamente,emocionando-se em muitos momentos,o que deixou claro sua insegurança e, Andréa pôde sentir um certo orgulho ferido que,talvez fosse o real motivo,mesmo que inconsciente,causador de todo aquele desespero. Com sutileza, em meio as opiniões e conselhos que transmitia à Laura, passou a especular sobre seus relacionamentos anteriores, mesmo aqueles mais superficiais, procurando obter dela a provável razão ou o desfecho que causou o termino desses. Ouvindo Laura atentamente,notou que aquela mulher parecia nunca ter tido uma experiência de rejeição em suas relações,pois quando passava a sentir-se insegura ou notava que seu parceiro demonstrava estar se afastando,Laura ,instintivamente ,terminava com a relação sem nem mesmo tentar buscar os motivos ou reavaliar a convivência ,em busca de soluções.Estava claro ,para Andréa que, Laura ,apesar de toda estabilidade emocional que procurava demonstrar , apresentava um temor imenso quanto a ser deixada por alguém,assim ,alem de perder muito das lições que a vida nos apresenta,alimentava sua desesperança na manutenção de uma vida a dois e em sua carência em confiar nos homens que passaram por sua vida.
A conversa estendeu-se por horas, até que, em determinada altura, Laura achou por bem despedir-se e voltar para casa e descansar, pois teria muito a fazer no dia seguinte e via que Andréa também se mostrava entregue ao sono, mesmo que tentasse, com discrição, disfarçar seu cansaço.
Após a saída de Laura, Andréa seguiu direto para cama e, momento antes de ser tomada pelo sono, refletiu sobre o que havia enxergado em Laura e, intimamente, teve a certeza de que seu amigo havia tomado à decisão acertada ao por fim naquela relação, pois estava convicta de que Laura, na realidade, não o amava, mas só mantinha a relação porque esta chegou a um ponto em que Laura sentia-se acomodada,e quando Paulo viu-se infeliz e percebeu que a magia se quebrara ,tomou a iniciativa de por fim a relação, o que a abalou ,retirando o chão de seus pés. Esperava que Paulo não voltasse atrás em sua decisão pois, tinha certeza, isto só traria sofrimento ao amigo pois, Laura não manteria,segundo sua intuição,o relacionamento por muito mais tempo,tomando ela a iniciativa de terminar com tudo,mantendo assim intacta sua auto estima e seu orgulho.
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Paulo acordou, no dia seguinte, entusiasmado, foi logo cedo à praia, retomar seu contato com a natureza do lugar, pois os dias que passara em São Paulo o fez afastar-se da paz e inspiração que a pequena e pacata cidade lhe transmitira.
Passou a manhã toda estendido na areia, procurando distanciar de sua mente, tudo e todos, a fim de reatar o contato com a natureza que o cercava e sua natureza intima, este, certamente, era o remédio que ele precisava para voltar a produzir com qualidade e naturalidade, conectando sua alma à suas telas, utilizando como cordão de ligação o espírito primitivo e a paz que aquele paraíso continha.
André estava empolgado com suas atividades junto aos negócios de Paulo, tudo, para ele, era agradáveis novidades e, não negava, o retorno financeiro que acompanhava estas novas experiências, o deixava ainda mais empenhado, fazendo, inclusive que esquecesse, em muitos momentos, seus próprios negócios e afazeres ligados à arquitetura, sua área de especialização e sustento, até aquele momento.
Próximo ao horário do almoço, André ligou para Paulo, que já havia retornado da praia, colocou-o a par do andamento dos negócios e comunicou-lhe da boa notícia, estava confirmado e disponível, em conta corrente conjunta, que mantinham apenas para os pagamentos das despesas do atelier, a primeira grande parcela de suas participações junto ao contrato conquistado, o que deixou Paulo aliviado e satisfeito. Aproveitou para confirmar que havia efetuado o depósito em conta corrente de Andréa ,como Paulo havia pedido, posto em ordem as contas de despesas do apartamento em São Paulo e enviado o restante dos valores para conta pessoal de Paulo,após debitar sua participação e despesas do atelier ,como combinado.
Paulo agradeceu o empenho e competência do amigo e despediu-se, marcando um novo contato, entre eles, para dali a alguns dias, para atualizar-se, novamente, do andamento das coisas.
Tamanha era a euforia de Paulo, naquele momento, que perdeu o apetite, passou pela recepção da pousada e pediu para que fizessem à gentileza de servirem para ele, na praia, um petisco qualquer, uma cerveja bem gelada e uma caipirinha de vodka, pois passaria o restante do dia curtindo o sol e o mar, relaxando, despreocupado, para retornar à suas telas somente no dia seguinte.
Passado o dia, Laura havia visitado vários apartamentos e estava empolgada com dois deles, o primeiro, localizado no mesmo bairro que moravam e o outro no bairro de Perdizes, zona leste da cidade, área nobre da capital, por este motivo o valor de seu aluguel ficava, consideravelmente, mais alto que o primeiro, em compensação a vizinhança era mais seleta e tinha um ambiente, anexo à sala, com paredes e cobertura envidraçadas com grandes janelas corrediças, pois, originalmente, era uma grande sacada que foi fechada pelo proprietário para que fosse mais bem aproveitado pelos seus inquilinos, era o local ideal para um atelier, como queria Paulo.
Para Laura, esta procura a fazia sentir-se próxima a Paulo, sentir-se parte da vida dele, esquecendo totalmente a decisão tomada por ele de separarem-se. Por um lado, isto era bom pois a deixava mais calma para raciocinar com mais clareza e refletir sobre o assunto ,mesmo relutante em considerar a possibilidade de realmente ser deixada,o que não ajudaria em nada ,se este fato se concretizasse.
Durante dias, Paulo dedicou-se intensamente à suas telas, estava maravilhado com os resultados de suas obras e, a cada dia que passava, mais ele se convencia de estar, finalmente, no caminho certo, seguindo seu talento e vocação. Alem das telas,Paulo passou a registrar,com esboços feitos num bloco de papéis ,que passou a carregar com ele por toda parte,muitas cenas do dia a
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dia dos moradores, e paisagens da região,a fim de auxilia-lo em futuras telas,que pretendia pintar quando retornasse a São Paulo.
Falava com Laura pelo menos uma vez ao dia, pois ela fazia questão de ligar-lhe, simplesmente para ouvi-lo e contar, dentre outras coisas, sobre suas buscas e opiniões a respeito dos imóveis que havia visto.
Paulo mantinha-se atencioso e paciente porem, procurava mostrar-se objetivo, em seus comentários, e por vezes dizia-se ocupado ,para fazer com que as ligações não se prolongassem,acreditando que, agindo desta forma, contribuiria para que Laura entendesse melhor os acontecimentos e aceitasse, no momento certo, o fim da relação entre eles.




































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Capitulo. 14

Consciência

Instinto primário
Ciência acadêmica
Vista até pelos cegos
Muitas vezes ingênua










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Numa manhã,quando Paulo retornava de uma curta caminhada,recebeu o recado que Laura havia ligado, e se tratava de um assunto urgente, e que deveria retornar o telefonema tão logo o recebesse. Paulo sabia que Laura não deixaria uma mensagem destas, se a situação não fosse ,realmente,urgente,então correu em direção ao seu chalé e ligou,imediatamente ,para ela.
Laura atendeu ao telefone e, ao sentir que Paulo estava aflito, do outro lado da linha, procurou ficar calma, pois o assunto era sério e sabia que Paulo iria se abalar. Ansioso para saber do que se tratava,Paulo pediu que ela deixasse de rodeios e fosse direto ao assunto,diante disto,ela expôs o ocorrido.
Rafael, irmão de Paulo, havia sofrido um incomum acidente no pasto do hotel fazenda, onde passava uma temporada e, encontrava-se internado, em estado muito grave, no pequeno hospital da cidade de Serra Negra, e seria transferido para São Paulo, tão logo seu estado se estabilizasse. Seus pais,inconformados com o ocorrido,precisavam de seu apoio e,acreditando que Paulo já estivesse em São Paulo,ligaram para seu apartamento.Informados que o filho havia retornado à Bahia,colocaram Laura a par do ocorrido e pediram que Paulo telefonasse para eles assim que fosse possível.Laura prontificou-se a colaborar no que fosse possível,desligou e,imediatamente ,fez a ligação para pousada e deixou o recado.
Paulo anotou o número do telefone, deixado por seus pais para que ele ligasse, e despediu-se de Laura, agradecendo sua colaboração e prometendo que ligaria para ela, novamente, assim que tivesse maiores detalhes da ocorrência. Imediatamente,entrou em contato com seus pais e soube que Rafael caminhava ,pelo pasto da fazenda como sempre fazia ,porem ,naquele dia especificamente,o peão havia mantido solto,no pasto,um enorme e mal humorado touro para que cobrisse algumas das vacas do rebanho ,o que não era comum,pois as coberturas eram feitas em local confinado ,dada a agressividade daquele animal.
Como seu irmão sofria de limitações mentais, não diferenciou o touro das vacas que, provocado por ele, reagiu chifrando-o, por varias vezes, e pisoteando-o até que Rafael perdesse os sentidos.
O acontecido soava para Paulo como irreal, o estado de Rafael era gravíssimo, com mínimas possibilidades de recuperação, segundo os médicos que o atenderam.
Como Paulo nada podia fazer naquele momento, pediu a seus pais que o informassem sobre qualquer mudança no quadro do irmão, pois, mesmo abalado, sabia que de nada adiantaria retornar à São Paulo,naquele momento ,procurou acalmar-se e voltar ao trabalho,porem sem cabeça para pintar,ligou novamente para Laura,colocou-a a par dos detalhes e informou que,provavelmente ,anteciparia seu retorno em função dos acontecimentos.
Dois dias após o acidente, Paulo já se encontrava em São Paulo para o funeral de Rafael que, não resistiu aos diversos e sérios ferimentos sofridos. Andréa o acompanhou ao velório e enterro,ao retornarem,Paulo deixou-a no apartamento e seguiu,sozinho,para a casa de seus pais,afim de tentar confortar ,de alguma forma,sua mãe,que se encontrava inconsolável e inconformada com a trágica e inesperada maneira em que Rafael perdeu a vida, deixou claro para Laura que não retornaria para o apartamento ,naquela noite,e ligaria para ela no dia seguinte para encontrarem-se e conversar.Laura,mesmo aborrecida com o gesto de Paulo,procurou não questiona-lo,aceitou sua decisão ,subiu e recolheu-se ,exausta.
Paulo não tinha afinidades com o irmão, porem, nesse momento, comoveu-se com a perda de alguém tão próximo, e principalmente com a dor que sua mãe demonstrava sentir, e sabia que precisava estar perto dela para dar-lhe forças e coragem para prosseguir com a
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vida,pois ela ainda tinha Paulo e,certamente um dia,veria nascer e crescer,outros netos,alem de Lipe, que ele,com certeza ,providenciaria no momento e com a pessoa certa.
Ao amanhecer, Laura olhava-se no espelho sobre a cômoda, sentindo-se horrível, depois da péssima noite que havia passado e sentiu que algo estava errado ou faltando, naquele ambiente. Preparou algo para comer e enquanto o fazia,aquela sensação não a deixava,até perceber que a caixa que havia dado de presente para Paulo ,no início de seu relacionamento,e que era o único objeto sobre a cômoda, não estava mais ali.Achou estranho pois não havia mexido nela e Paulo só havia estado no apartamento por pouco tempo,quando de sua chegada ,da viagem, e não o viu levar nada consigo ao sair ,em sua companhia, para o enterro.
Laura retornou ao quarto e passou a procurá-la em todos os lugares, olhou, inclusive, no banheiro, acreditando que ele pudesse tê-la retirado, por qualquer motivo, e esquecido de retorná-la ao seu devido local. Irritada por não ter localizado a caixa ,e intrigada por não saber o que fim havia sido dado a caixa,fechou a casa e saiu para seus afazeres com aquela dúvida atormentando sua cabeça.
Paulo, procurando estar mais próximo de sua mãe, propôs instalar-se em seu antigo quarto, na casa dos pais por cerca de uma semana, acreditando que isto a faria sentir-se melhor e, ao mesmo tempo seria, para ele, mais adequado,pois ainda mantinha sua posição em separar-se de Laura e temia,convivendo com ela em seu apartamento, não resistir a tentação daquela bela mulher e fraquejar em sua decisão. Ligou para seu apartamento,a fim de falar com Laura,mas ela já havia saído,assim, Paulo pegou seu carro,foi até seu apartamento,separou algumas roupas limpas e itens de Higiene pessoal,que ainda se encontravam separados pois ele não tivera oportunidade de arrumar todos os seus pertences quando do retorno da viagem, e deixou um recado para que Laura ligasse para ele quando retornasse.
No final do dia, Laura retornou para casa, encontrou o recado de Paulo e, imediatamente, ligou para ele a fim de saber o que havia ocorrido. Paulo esclareceu a situação a ela ,justificando sua ida para casa dos pais ,temporariamente,no o intuito de conforta-los,visto que sua mãe encontrava-se ,emocionalmente,muito abalada e depressiva.Laura mostrou-se compreensiva,mesmo sentindo-se ,intimamente,desgostosa com aquela atitude,mas não questionou-a e nem prolongou a ligação,dizendo a Paulo que ,quando retornasse para casa teriam que conversar e procurarem retomar suas vidas juntos.Paulo,preferindo não discutir o assunto e,naquele momento,concordou e despediu-se.
Paulo passou os dias dedicando-se a seus familiares e a seus negócios, junto à agência de propaganda, que cuidava da produção da campanha de seu novo cliente, pouco falava com Laura, pois se mantinha ocupado e preocupado com os extremos dos acontecimentos que surgiram em sua vida, naqueles poucos dias, era consciente de que, situações adversas, nos tiram do caminho traçado e nos coloca no centro de uma fantasia que nos anestesia e carrega para o nada. Alegrias e tristezas,conquistas e perdas,retrocessos e avanços,tudo em um curto período de tempo,exigiu de Paulo toda sua energia,e ao chegar no fim dos dias,ele se via tão exausto que desmaiava em sua cama,muitas vezes sem ,nem mesmo,alimentar-se adequadamente.
Neste difícil momento de sua vida, Paulo deixou de lado seu projeto de expor seus trabalhos artísticos, esperando retoma-lo quando a tempestade, que se abateu sobre ele, se se dispersa.
Laura, ainda intrigada com o paradeiro da caixa que presenteara Paulo, não demorou a encontrá-la ao abrir a terceira gaveta da cômoda, o que a deixou angustiada e trouxe de volta sua insegurança e depressão, pois, segundo critérios estipulados por ela mesma, aquele era o local onde ele mantinha, temporariamente, os itens que descartaria mais tarde, retirou a caixa da
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gaveta e resolveu verificar seu conteúdo.Encontrou ali ,vários bilhetes de acesso a cinemas e shows que havia assistido com ele,uma foto de quando estiveram num restaurante ,apreciado por Paulo,que ficava num pequeno município próximo a cidade de São Paulo ,outra da viagem que fizeram juntos,e uma terceira ,com uma dedicatória no verso,o que deixou Laura assustada pois esta era a foto que Paulo carregava consigo até então,alem de pequenos bilhetes e recados que Laura deixava para ele e que nunca imaginaria que fossem guardados com tanto carinho.Naquele momento,Laura se viu só,acreditava que tinha sido colocada de lado,por Paulo,mesmo que eles ainda não tivessem conversado e decidido nada, pessoal e formalmente.Entendia que ele havia retirado-a do coração,com o ato de retirar a caixa de sobre a cômoda, que representava,para ela, a cabeça,a consciência de Paulo,vendo-o ,assim,por completo naquele móvel.
Seus próximos dias, sozinha no apartamento, foram um verdadeiro flagelo, desolada com sua falta de perspectiva, no que diz respeito à seu relacionamento, e por vezes culpando-se pela crise do mesmo,só lhe restava,pensava ela,aguardar o desfecho final de seu romance que,naquele momento, para ela ,estava aflorado na pele e na alma.






























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Capitulo. 15

Separação

Final do conflito
Retorno à razão
Solidão e castigo
Esperança e paixão








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Numa tarde, Paulo pegou Laura, em seu apartamento, para irem ver dois dos imóveis que ela havia selecionado e que ainda encontravam-se disponíveis para locação, a fim de decidir qual o mais adequado às suas necessidades, tanto quanto a espaço como ao custo da locação. Minutos antes de descer,Laura olhou-se no espelho,para retocar a leve maquiagem que tinha feito e,vendo-se ali,no espelho sobre a cômoda,identificou-o como os olhos de Paulo,refletindo a imagem daquela que ele tanto adorara ,o que a fez perder o brilho pois,acreditando não mais fazer parte de sua vida,abalou-se e a fez sentir-se desesperançada com relação a sua vida conjugal.Naquele momento,Laura ,enxergando suas limitações,nunca se viu tão próxima do homem que,acreditava amar e ,ao mesmo tempo ,tão distante,por não ter tido o discernimento para conhece-lo,compreende-lo e aceita-lo como realmente era,ao invés de tentar transforma-lo no que,em suas fantasias,considerava ``O homem ideal``.
Paulo, não só adorou o apartamento, localizado no bairro de Perdizes, com aquela grande e iluminada área, como saiu de lá decidido a alugá-lo.
Laura, não conseguindo mais conter-se, intimou-o a conversarem e decidir o que fariam de seus futuros, pois Paulo parecia querer fugir do assunto e passou o tempo todo, que estiveram juntos, naquela tarde, sem tecer um único comentário quanto à relação entre eles, então, dirigiram-se para o apartamento em que moravam e Paulo subiu, acompanhado por Laura e, após uma longa e desgastante conversa, ele deixou claro e definido que não mais manteria a relação com ela.
Laura pareceu estar mais equilibrada e predisposta a aceitar a situação, o que facilitou, em muito, os acertos e definições quanto ao apoio que Paulo pretendia dar a ela. Concordaram,entre si,que Laura ficaria,definitivamente,morando no antigo apartamento de Paulo,pois ele deixaria um ano de aluguel quitado,acreditando ser tempo o suficiente para que ela procurasse progredir e se estabilizar financeira e emocionalmente,bem como toda mobília do mesmo,com exceção,é claro,da cômoda,que o acompanhava desde a juventude,e de seus pertences pessoais,pois Paulo pretendia renovar toda a decoração de seu novo apartamento e atelier.
Semanas se passaram, e Paulo, já instalado em sua nova casa, mesmo que faltando um ou outro móvel e utensílios, sentia-se feliz e realizado, a não ser pelo fato de, ainda, sentir muito a falta de sua companheira, porem certo de que tais sentimentos só lhe deixariam com o passar do tempo,porem,as noites eram,para ele,particularmente difíceis,pois,se não pela saudade de uma companheira para compartilhar seus sentimentos e pensamentos,a falta física de uma mulher ,para dividir seu amor e aquecer sua alma ,o fazia perder,por vezes,o sono e a paz.Numa dessas noites ,Paulo procurou retratar,com palavras,num texto chamado “Mulher”,o como enxergava o universo daquelas que,mesmo o fazendo sofrer,obtinham seu respeito e admiração.

MULHER

Guerreira da paz
Provedora da vida
Eficiente e capaz

Necessária presença




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A ausência confunde
Suprime a carência

Força continua
Brotando da mina
Eterna, divina

Paulo entregava-se ao trabalho, compulsivamente, mantinha, junto com André, o escritório que, cuidava exclusivamente da administração das campanhas de seus clientes, ficando, seu atelier de casa, apenas para desenvolver e produzir seus quadros e demais peças artísticas, que ele passava a se dedicar como, pequenas esculturas e colagens. Sua devoção ao trabalho trouxe-lhe grandes resultados ,no decorrer do tempo.Seus quadros,que fariam parte de sua primeira mostra individual,estavam prontos e extremamente expressivos e belos,num total de vinte ,verdadeiras,obras de arte.
Andréa, empolgadíssima com a preparação da mostra do amigo, e também com seu relacionamento com Arthur que, há algumas semanas, a havia convidado para morarem e partilharem à vida juntos, utilizava de todo seu tempo, anteriormente disponíveis para sua meditação e descanso, para preparar, não só os detalhes finais da mostra, como as mudanças que, em breve, revirariam o ritmo de vida que ela estava acostumada a ter.
Os pais de Paulo, um pouco mais conformados com a tragédia ocorrida com Rafael, estavam felizes com as mudanças e progressos que ocorriam na vida do filho, e estavam cada vez mais próximos a ele e ao neto, procurando participar, mais ativamente, da vida de ambos que, passaram a ser o objetivo de vida e a alegria de viver de Dna. Claudia e do Sr. Bruno.
Carla, a pedido de Paulo, passou a deixar Lipe, com maior freqüência, com o pai e os avós, sabendo que isto seria benéfico, tanto para eles, como para Lipe, que passou a estreitar a relação com eles, trazendo alegria e renovação de vida para os avós.
Paulo, dedicado à sua arte, mesmo só, não retomou sua vida social com a intensidade costumeira, de quando solteiro, mantinha-se concentrado no trabalho e limitava-se à convivência com os amigos e familiares, passando a descobrir uma nova forma de prazer, sincero e leve, sem se expor às intrigas e conflitos que os ambientes de festas e bares, inevitavelmente, apresentavam.
Laura não mais o procurou, nem mesmo para uma conversa de amigos, o que Paulo encarava como muito positivo para ela, como para ele próprio, pois, desta forma, o facilitava em deixar o passado no passado.
Paulo preparava-se para enviar os convites, para seu vernissage, limitando-se aos poucos familiares e amigos, realmente íntimos, pois, mesmo sendo um profissional publicitário, acreditava que, neste caso, deveria limitar-se às pessoas mais chegadas para estarem presentes em sua estréia como artista plástico, porem, comentando com Andréa sobre sua limitada lista de convidados, ela lhe fez um pedido que Paulo não poderia recusar-se a atender, que deixasse a seu encargo a formulação da lista e envio dos convites, pois, diante de toda preparação e qualidade das obras, deveriam estar presentes, segundo ela, o maior numero possível de pessoas ligadas à área, bem como apreciadores e potenciais compradores de seus trabalhos. Paulo ,assumindo que não deveria lidar com a divulgação de seus trabalhos e,neste


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caso,se colocar como um clientes ,não só concordou com a amiga ,como deixou-a a cargo destas responsabilidades.
Paulo sentia-se seguro e tranqüilo, com suas finanças equilibradas, os negócios caminhando cada vez melhor, principalmente com o apoio e trabalho de André que, vendo a expansão, tanto dos trabalhos como dos rendimentos, na administração dos clientes ligados a área de publicidade, foi, aos poucos, se distanciando de seus trabalhos, em arquitetura, mantendo apenas aqueles maiores e mais rentósos clientes, procurando dedicar-se, quase que exclusivamente, aos negócios ligados a Paulo, agora seu sócio, o que fez com que criassem uma pequena agência e contratassem dois funcionários para manter o bom andamento das campanhas que ainda tinham, em alguns casos, apoio da grande agência com que iniciaram todo o processo.



































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Capitulo. 16


Busca


Período de emoção
Sentidos apurados
Coração desarmado
Pura exaltação











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A exposição foi um sucesso, Paulo se viu admirado com os elogios e parabenizações dirigidos a ele por suas obras, sentiu que poderia dar continuidade no desenvolvimento e aprimoramento de sua arte, visto a enorme repercussão e impacto que sua primeira mostra provocou, pois, com exceção de duas das telas expostas, que não estavam à disposição para venda aos convidados, pois, Paulo presenteou Andréa e seu amigo e sócio André com essas obras, todas as demais foram negociadas, e ficariam ali, expostas, por cerca de duas semanas e, só então, poderiam ser retiradas por seus novos proprietários.
Por ser sua primeira mostra, e comercialização das obras, os valores conquistados não eram, realmente, muito expressivos, porem, Paulo esperava conquistar valores maiores em suas telas, com o reconhecimento e projeção que, com o tempo, adquiriria. Algumas fotos foram tiradas, durante o vernissage, e uma destas, onde Paulo aparece, ao centro, rodeado por amigos e alguns convidados, foi presenteada a ele, já emoldurada, e foi colocada sobre a cômoda, que agora fazia parte do mobiliário de seu atelier, no apartamento.
Num final de tarde, em seu atelier, após chegar de um exaustivo dia de trabalho, junto a André, em seu escritório, agora sua agência de publicidade, Paulo iniciava uma nova seqüência de telas quando, passou-lhe pela mente que estava só por, demasiadamente, tempo demais, e a solidão que, até então, considerava estar sendo uma boa colega, passava a ser ela amiga e companheira de todas as horas, o que não lhe parecia mais saudável, pois, por ser egoísta, a convivência constante, com ela, estava causando-lhe angustia e encaminhando-o à depressão. Decidido a não entregar-se,prometeu a si mesmo que procuraria sair mais,para se divertir ,agora que sua condição financeira não lhe era mais problema, e procurar fazer novas amizades e participar,mais ativamente,das atividades sociais que sua nova condição lhe proporcionava.
Nos dias que se passaram, Paulo, após sair de sua agência, procuraram conhecer novos lugares, choperias, casas noturnas, a fim de se distrair e relaxar,porem,mesmo encontrando novas caras,papeando com pessoas,sentia a falta de alguém com quem pudesse ,realmente,se abrir e manter conversas mais consistentes e interessantes.
Num final de tarde,quando Paulo preparava-se para sair da agência,recebeu um telefonema de Andréa, que o chamou para ir à sua casa, a fim de encontrar-se com uma conhecida de Arthur, que estivera em sua exposição e adquiriu duas de suas obras, e estaria interessada em novos trabalhos, pois, sendo ela responsável pelas aquisições de peças para uma renomada galeria de artes de São Paulo, havia exposto seus quadros e obtido grande retorno e interesse, por parte de seus clientes e investidores em arte, por seus trabalhos, e considerava a possibilidade de adquirir outros e, quem sabe até, comprometer-se com encomendas de seqüências de telas, por ele produzidas. Paulo não exitou e confirmou sua presença,para dali a poucas horas.
Ao chegar à casa de Andréa, Paulo foi recebido, na porta, por Arthur, cumprimentando-o com energia e amizade, pois, já haviam sido apresentados durante a inauguração de sua exposição onde tiveram, inclusive, tempo para trocar algumas idéias e se conhecerem um pouco, o que fez com que Paulo tivesse certa simpatia por ele, não só por ser, Arthur, o grande amor de sua grande amiga, mas também por se tratar de um homem que se mostrou culto, apreciador das artes e de seus trabalhos. Adentrando-se a sala,viu que Andréa conversava ,animadamente,com uma linda e elegante mulher que,certamente seria a pessoa interessada em seus trabalhos.Cumprimentou Andréa que,de imediato apresentou-o a Nuria Carvalho,mulher deslumbrante ,formada em administração de empresas porem, por ser apreciadora das artes,sempre trabalhou em empresas
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ligadas à esta área ,ou naquelas que investiam ou patrocinavam todo tipo de manifestações artísticas.
Conversaram muito, sobre diversos assuntos, inclusive sobre seus trabalhos e objetivos de Paulo dentro desta área, pois, Nuria queria ter certeza de estar promovendo e introduzindo no seleto mercado das artes plásticas um novo e produtivo artista, alem de talentoso. As palavras de Nuria soaram para ele como música,não apenas pelos explícitos elogios,mas pela radiante beleza e suavidade da voz daquela mulher.Pouco antes de se despedir,e nada,realmente decidido,Paulo convidou-a a visitar seu atelier ,onde mantinha alguns de seus novos trabalhos para que ela pudesse avaliar o desenvolvimento e desenvoltura de suas obras ,recém produzidas,o que foi ,gentil e imediatamente ,aceito por Nuria,que marcou ,para o dia seguinte, sua ida ao recanto do artista,como foi por ela descrito.
Naquela noite, Paulo custou a pegar no sono, levantou-se, em plena madrugada, e pôs-se a trabalhar, em seu atelier quando, olhando, distraidamente, para a foto posta por ele sobre a cômoda, notou que, em meio às pessoas ali presentes, encontrava-se Nuria, discretamente postada próxima a Arthur que, por sua vez, colocava-se ao lado de Andréa, na pose. Passou,neste mesmo momento, a entender sua agitação e insônia,naquela noite,pois mesmo não querendo assumir,aquela bela e fascinante mulher ,havia mexido com seus sentimentos desejos e entusiasmo,perdendo-se em pensamentos,resolveu retornar ao quarto e esforçar-se para pegar no sono,mesmo não conseguindo tirar Nuria de sua cabeça.
Paulo levantou-se, no final da manhã, do dia seguinte, pois, só conseguira pegar no sono ao amanhecer, ligou para André e, colocando-o a par da visita que teria, e dos preparativos a serem feitos, não apareceria na agência naquele dia. Ansioso por rever Nuria,não conteve sua euforia e resolveu telefonar para ela,a fim de antecipar sua visita,que ocorreria no final da tarde,para dali a uma hora,ou seja,por volta das quinze horas.Nuria ,por não ter outro compromisso agendado para aquele dia,não questionou a mudança de horário de sua visita,mas ficou intrigada com a empolgação que Paulo demonstrou ao telefone,mesmo que houvesse se esforçado para encobri-la.
Chegando ao seu apartamento, e atelier, Nuria foi recebida com carinho e excessiva atenção, por parte de Paulo que, por mais que se esforçasse, não conseguia resistir aos encantos daquela bela e elegante mulher.
Conversaram por horas, na sala de seu apartamento, até que Nuria, de forma discreta e educada, lembrou-o da razão pela qual o visitara e pediu a ele que lhe mostrasse seus trabalhos recentes, a fim de dar início a provável negociação destas telas e, quem sabe, de outras que viriam a ser pintadas por ele. Desconcertado, com sua atitude firme e profissional,Paulo acompanhou-a até o atelier e apresentou-lhe algumas das obras já prontas,e teve a imediata e segura admiração,por parte de Nuria que,empolgada com a firme leveza dos traços do artista,fez-lhe uma proposta de fornecimento de seus trabalhos para a galeria,sendo que ,os valores a serem pagos ,por cada uma das obras, seriam definidos caso a caso.Paulo,encantado com o profissionalismo e fascinado com a pessoa de Nuria,concordou com sua proposta,colocando ,apenas,uma exigência,que Nuria fosse a única responsável pela avaliação de seus trabalhos,juntamente com ele,evidentemente,e que os acertos e avaliações das obras fossem feitos em seu atelier,e não na galeria,onde Nuria trabalhava,esperando com isto,vê-la constantemente,dali em diante e,quem sabe ,conhecendo-a melhor e fazendo-se conhecer,procurar conquistar seu coração.


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Após as formalidades, quanto aos acertos efetuados entre ele e a galeria, representada por Nuria, Paulo, num momento de empolgação, resolveu convida-la para jantar fora, naquela mesma noite, porem, não obteve sucesso em sua empreitada, pois, educadamente, Nuria esclareceu-lhe que teria que retornar à galeria, pois tinha ainda muito a fazer, antes de encerrar seu dia de trabalho, mas mostrou-se disposta em aceitar o convite para uma outra noite, o que o deixou exaltado e seguro de que aquele seu entusiasmo estava sendo, por ela, correspondido. Paulo entregou-lhe seu cartão,que continha apenas o número do telefone de sua agência,porem,anotou no verso, o número de sua casa,e atelier,para que ela o ligasse quando quisesse ,ou fosse necessário,dando a entender que,seu gesto ,havia sido motivado pelo relacionamento profissional que nascia naquele momento,mesmo que tal dissimulação não fora bem sucedida,junto a Nuria que,educadamente fez-se de desentendida ,e profissional.


































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Capitulo. 17


Felicidade

Círculo sem vícios
Ciente do meio
Sóbria loucura













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Paulo sentia-se mais empolgado com suas obras e com a sua vida, o ar parecia-lhe mais leve e prazeroso, ao ser inalado, e a certeza da presença, em futuro próximo, de Nuria, o fazia regurgitar de emoção, porem, este não era o único motivo, Paulo sentia que tudo e todos ao seu redor estavam em harmonia. Lipe,agora mais presente,adorava trabalhar e conviver com o pai,nos finais de semana,no atelier,pintando e conversando sobre os acontecimentos da semana,seus pais,superada a fase mais difícil da perda,faziam-se mais presentes e acompanhavam com orgulho e prazer o desenvolvimento e reconhecimento da arte de Paulo ,Carla,contente com o desenvolvimento da aptidão de Lipe,para as artes,junto ao pai, e os amigos,principalmente André e Andréa,sempre presentes ,dividindo as alegrias e emoções das conquistas,todos harmoniosamente ligados,através de Paulo,como numa grande família ,fazia com que ele mantivesse um estado de paz e felicidade que não sabia,até então,existir.
Nuria viria complementar este circulo, sem vícios, de forma suave e segura, da parte de Paulo, e esta certeza o deixava a vontade para prosseguir,não só profissionalmente, mas, o principal, emocionalmente, de forma clara e transparente, sem ocultar ou alterar, de alguma forma, sua personalidade ou maneira de ser e agir.
Semanas se passaram, e Paulo, trabalhando contínua e intensamente, acumulava varias obras que considerava prontas para serem expostas e apreciadas. Como Nuria não mais havia entrado em contato,achou por bem telefonar para galeria,afim de saber do real interesse deles por suas obras.A ligação foi atendida pela própria Nuria que,ao identificar Paulo ,cumprimentou-o com amabilidade e expressou ,educadamente,seu desapontamento quanto a ele não tê-la procurado,afim de realizar o cumprimento do convite para o jantar que havia prometido, quando do encontro deles em seu atelier.Paulo,desconcertado com a carinhosa cobrança de Nuria e buscando amenizar sua falta,disse-lhe que ,a razão do telefonema era justamente este pois,estava aguardando-a ,em seu atelier,para avaliar o interesse ,da galeria,em suas novas telas e ,posteriormente,saírem para jantar e ,quem sabe,divertirem-se na noite paulistana.
Marcada a visita de Nuria, ao atelier, para o dia seguinte, Paulo resolveu colocar um pouco de ordem em seu local de trabalho, visto que, a desordem estava generalizada. Em pouco tempo ,colocou uma certa ordem no lugar e,vendo aquela foto,posta sobre a cômoda,retirou a terceira gaveta da mesma,onde mantinha suas lembranças “duvidosas” e,sem nem mesmo rever seu conteúdo,colocou todo material dentro de um grande saco plástico e o pôs na área destinada ao lixo,inclusive a caixa presenteada a ele por Laura.Uma ponta de saudade alfinetou seu peito,mas Paulo,agora seguro de seus sentimentos e feliz por sua condição,no geral,enxergou,de forma positiva, sua atitude e teve a certeza de que aquele seria seu ultimo sentimento,consciente,por ela ,pois acabava de desatar o ultimo laço que o unia,emocionalmente,a ela,desejou,intimamente,que Laura encontrasse seu caminho na vida e que fosse feliz,tanto quanto possível e, como por magia,retirou-a,conscientemente, de sua mente.Recolocou a gaveta,completamente vazia,em seu devido lugar , respirou aliviado e esperançoso com a expectativa que criara em torno de Nuria.
Sentado em seu atelier, Paulo viu-se refletindo sobre sua atual situação e,a quantas andava sua auto estima,contemplando-se com a energia e encanto que brotava de seu interior ,e que o fazia sentir-se mais bonito e atraente externamente,sentimentos estes ,recordava ele,que a algum tempo,não fazia parte de sua consciência.



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Andréa, a cada dia mais feliz e satisfeita com as dádivas que recebia e ,o mais importante de tudo,sabia reconhecer ,agradecer e aproveitar,seguia esperançosa com a vida e ,principalmente com Arthur que,com o correr do tempo,mostrou-se um homem companheiro e,como ela havia pedido a Deus,amante perfeito em seu ritmo.Arthur,praticamente ,estava morando com Andréa,porem,mantinha sua casa onde,de tempos em tempos,passava alguns dias sozinho ou ,até mesmo com Andréa,criando um clima saudável ,para o relacionamento, e quebrava a rotina do casal que,inclusive,fazia planos,para num futuro próximo, providenciar o primeiro filho , dando inicio a uma nova e,ainda mais feliz e completa,família.
O encontro de Paulo e Nuria correu com alegria e tranqüilidade e, como não podia ser diferente, por se tratar de verdadeiras almas gêmeas que se encontraram, finalmente, neste plano, iniciou uma amizade e um romance que trazia para Paulo, em seus sonhos,
certo conforto,até mesmo nos “erros”cometidos durante sua vida,e uma certa dose de aceitação e consciência por ter agido,durante esses períodos difíceis,de forma positiva e resiliênte.
Sua arte, cada vez mais, fazia-se presente em mostras por todo país e, começava a aparecer convites para que fossem expostas no exterior. Paulo passava ,praticamente todos os dias, em seu atelier ,e pensava até mesmo,em fechar a agência,visto que não encontrava mais tempo para atender aos seus clientes,só não o fazia por consideração e respeito a André que,agora, assumindo toda responsabilidade sobre os negócios,tinha,nesta atividade,sua principal renda,distanciando-se,quase que totalmente,de sua área de especialização,a arquitetura.
Paulo resolveu então, numa reunião agendada com André, no escritório da agência, transferir para o amigo oitenta por cento das cotas da empresa, ficando, ele, com vinte por cento dos ganhos, o bastante para dar-lhe certa segurança financeira e, ao mesmo tempo, dispondo-se a apóiá-lo, no que diz respeito ao departamento de criação das campanhas, até que André encontrasse a pessoa certa para assumir esta atividade. André ,inicialmente, perplexo com a proposta do amigo pois,Paulo havia trabalhado intensamente para que a agência se desenvolvesse e alcança-se sua atual posição no mercado publicitário, compreendeu as razões que o levaram a isto e,grato pela consideração e respeito demonstrados,aceitou de bom grado pois,a bem da verdade,ele já estava ,literalmente,dirigindo sozinho os negócios.
Paulo sentia-se realizado com os feitos e acontecimentos, a cada dia, mais envolvido com Nuria, chegando ao ponto de acreditar que ela seria, certamente, a mulher que geraria seu próximo filho, porem, achava prematuro fazer-lhe tal proposta, pois,mesmo com o relacionamento correndo de forma natural e intensa,acreditava ter que amadurecer um pouco mais a relação para,só então, dividir esta sua vontade e sonho com ela.
Pensava muito na alegria e prazer que daria aos seus pais, com a chegada de um outro neto, ou neta, como Paulo gostaria, já que, tendo Lipe, seu primogênito e o amor de sua vida, gostaria da experiência de criar uma menina, a qual, inclusive, já havia escolhido o nome, caso a mãe, escolhida por ele para gerá-la, concordasse, Alexia.
Conversando com Nuria, descontraidamente, num restaurante no qual foi jantar, Paulo fez-lhe um pedido incomum, que posasse para que ele a pintasse. Para Paulo,isso era novidade pois,não gostava de trabalhar com sua arte na presença de pessoas,fossem elas quem fossem,porem,sentia que com Nuria isto não aconteceria pois,sentia-se seguro e tão a vontade com sua presença que sabia que não teria a menor dificuldade em concentrar-se e retrata-la de corpo presente.


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Nuria, num primeiro momento, surpresa e lisonjeada com a proposta, reagiu de forma natural e carinhosa, aceitando, com empolgação, a proposta e, disse a Paulo que, esta tela deveria, por desejo dela, ficar exposta em sua sala para que ela estivesse sempre com ele.
Num fim de semana, Nuria passou a tarde posando para Paulo e, ao sentir seu olhar, correndo seu corpo e traduzindo-o numa tela, em forma de arte, sentiu-se a mulher mais deslumbrante e feliz, na face da terra. O resultado ,não podia ser diferente,foi fabuloso, e Nuria ,envolvida com aquele clima ,entre arte e sedução,entregou-se a Paulo que,sentindo ser ela,realmente a mulher de seus sonhos,convidou-a a ficar,com ele, por todo final de semana que pareceu-lhes,como nunca,curto demais ,tamanha paixão que brotara entre eles.




































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Capitulo. 18

Amor

Over dose de vida
Viagem, só de ida
Sublime condição














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Paulo, empolgado e feliz com sua vida e com Nuria, abriu seu coração para ela, que correspondeu a seus anseios, demonstrando seus sentimentos e intenções, para com ele.
A leveza e espontaneidade da relação, entre eles, trouxeram, naturalmente, uma maior aproximação, ao ponto em que Nuria chegava a passar dias no apartamento de Paulo e, por vezes, ele no dela.
Ambos se viam felizes e apaixonados, e não cogitavam em mudar a maneira em que o relacionamento se desenvolvia, pois, tudo corria de forma tão natural e sincera que se fazia completo. O amor se fazia presente em suas vidas ,de forme espontânea e,num certo momento,Nuria,com ar de incomparável felicidade e afeto,participou a Paulo que estava grávida,o que o deixou emocionado ao ponto de explodir de felicidade pois,certo de ser Nuria ,a mulher de sua vida, confirmava seu amor por ele dando-lhe a mais bela prova,uma nova vida que nasceria do amor entre eles.
Os meses se passaram e veio a confirmação, através dos exames pré-natais, de que se tratava de uma menina, o que fez com que Paulo, reluzente de felicidade, dividisse sua alegria e esperanças com todos que o cercavam. Lipe,empolgado com a idéia de ter uma irmãzinha,passava horas admirando e ,procurando sentir,na barriga de Nuria,a vida que se formava,os avós,ansiosos e corujas,faziam-se presentes,sempre que possível e, a cada visita ,traziam presentes que,praticamente, formaram um lindo e completo enxoval para aquela que,com a concordância de Nuria,chamar-se-ia Alexia,como queria Paulo.
A arte de Paulo, naqueles meses, tinha como principal tema e inspiração, a maternidade e paternidade, bem como, seus traços passaram a ser mais simples e leves, influenciados pela pureza das crianças, com tons de cores leves e alegres. Uma fase de suas obras que agradou a Nuria e a todos os admiradores de suas telas,porem, boa parte destes trabalhos,Paulo optou por não negociar ,limitando-se a expô-los apenas como mostra da bela e incomum fase de sua arte que traduzia ,na pureza e simplicidade dos trabalhos, o amor ,encontrado por ele,por sua vida e por todos que o cercavam e formavam,de alguma maneira,sua real família.
Sobre a cômoda, agora, via-se fotos de Nuria, ao lado de Paulo e Lipe, Dna. Claudia e Sr. Bruno ,Andréa e Arthur ,com uma incontestável felicidade estampada nos rostos,outra de Paulo e André,tirada quando da inauguração de sua primeira mostra,ao lado da tela que Paulo presenteara o amigo e, como não poderia faltar,uma fotografia,tirada por Paulo ,recentemente,de Nuria e sua grande e linda barriga e com um olhar que brilhava ,como que trazendo a visão do mundo para Alexia que se mostrava,dada sua agitação no ventre da mãe,ansiosa por se fazer ,fisicamente,presente e partilhando dos carinhos e amor de seus pais e daqueles que os rodeavam.Aquela terceira gaveta,continuava vazia e livre,das duvidas,inseguranças e indecisões que,não mais faziam parte da vida de Paulo e daquela ,incontestável,feliz família,bem como ,as demais lembranças ,disponíveis,haviam sido organizadas e expostas ,sem restrições por parte de Paulo,à Nuria .
Os caminhos trilhados por Paulo, ao final, mostraram-no a real conquista que, na verdade, encontrava-se em seu interior, pois, não se sofre por amor, se vive feliz com ele, mas, fez-se necessário percorrer um longo e, por vezes, árduo caminho, retirando de cada passo dado, de cada vida cruzada, a base para que formasse e preparasse sua alma para encontrar seu destino que, como sempre, de alguma forma ,nos alcança e nos prova que o verdadeiro amor vem de dentro, envolvendo a tudo e a todos com sua beleza nua e felicidade crua.
Um súbito e intenso choque, como que um violento impacto dele com ele mesmo, acomete Paulo, que acorda desnorteado, sem reconhecer, de primeiro momento, quando e nem mesmo onde se encontrava. Como se o espaço e tempo lhe fugisse à realidade. Após
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alguns instantes recompondo-se,reconhecendo seu quarto na pousada,em Mucuri, com seu contrato assinado na cabeceira da cama.
Procurando rever toda aquela experiência, para ele vivida, que só poderia ser definida como premonitiva, Paulo, quase que instantânea e instintivamente, começa a redimensionar, repensar, seus próximos passos e atitudes diante da vida e futuro.


Acredite em seus instintos!



Os fatos inerentes a esta estória terminam aqui, porem, seus personagens têm vida própria e os acontecimentos pertinentes a cada um deles, a eles e ao futuro pertencem...


“ELES ESCREVEM A PRÓPRIA HISTÓRIA”.




Paulo Laura Alexia



Bruno Nuria



Claudia Felipe




André Andréa



Carla Arthur





















FIM



Local de chegada.
Ponto de partida.